Chove lá fora (e aqui dentro)

      É engraçado quando você se depara diante de um céu cinza e chuvoso, e as gotas são tão gordas que parece que foi o próprio diabo que mandou a chuva. De qualquer forma, a chuva sempre me traz uma sensação de descaso, onde pouco importa o que é a vida desde que as nuvens não parem de urinar suas vazias almas brancas. E então, quando os meus ossos estão ensopados o suficiente, elas mudam de lugar e o sol vem parecendo uma pérola de bijuteria barata, pairando sobre cores que ele detesta. Dessa forma, diante de toda essa luta divina da qual nem eu, nem você faremos parte, a vida grita sua insignificância. Dói-me os olhos pensar que, horas antes, eu estava tendo um riso histérico sobre alguma coisa que meu pai disse.
      Por que temos que ser tão frágeis?
      Por que, como se fôssemos de porcelana, a chuva faz questão de frisar o quanto somos quebráveis?
      E assim por diante, a humanidade faz perguntas tão ordinárias como essas, dando prêmios mais ordinários ainda para a alma que responda (ou acha que responde) essas questões. E vivemos presos em rotinas: penteando o cabelo ao olhar o espelho que devolve um olhar que não é nosso, comendo uma comida que dá para sentir pena do estômago, e engolido informações processadas. E, ainda por cima, tem a chuva.
      Maldita.

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