Fruta fresca

(Laís Moura)

Tentei acordar do lado do avesso. Dormi com seu gosto de fruta que acabou de cair do pé e me perguntei, como de hábito, se o sol nasceria novamente no dia seguinte. Vem e vai me bate uma vontade de sair correndo, seis da manhã, e te apertar com força que nem possuo.
Pasme: Não sonhei com você essa noite. Acho que tal façanha se deve ao fato de que adormeci olhando as estrelas: elas assim, juntinhas, para sempre. E que ninguém venha me falar da física e de meteoros: para mim elas sempre serão pontinhos, como aqueles que fazemos nas borrachas. Um aqui, outro ali... E de tanto olhar esses pontinhos, eles invadiram meus sonhos e tomaram todo espaço reservado em seu nome.
Quem me dera ao menos quinhentas vezes escrevê-lo na areia... O que o mar leva a vida não perde, diria a moça da padaria. Toda poeta, ela recita amor desde que perdeu o anel que carregava no pescoço no mar e achou-o de volta semanas depois, próximo de onde o derrubara. E, enquanto ela poetiza, penso com meus botões quando perdirei vossa mercê.
Em tal dia perderei o paladar: há fruta melhor do que a que acaba de cair do pé...?
Desisto de imaginar. Vez ou outra você me sacode, implorando de que a vida não é cor de rosa mas é perto disso, então não há o que temer. E sorri, como se não bastasse. Sinto instantaneamente mel.
- Você é pessimista demais. - Tu me dizes.
E canta ao relento Legião, Renato, Cazuza e Los Hermanos. Melodias que, se mordidas, derretem. Como dengosamente canta Cazuza na sua voz:
"- Eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida..."

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