Flores, escaladas, montanhas

(Bárbara Suzart)



  Eu te espero no vazio que me persegue. Ainda me pergunto o porquê. Apenas andava distraída - novidade - e me deparei com uma montanha. Olhei diretamente para o sopé da mesma e lá estava você, ah, você ali, sentado, com aquela pose desleixada. Olhava para o eterno horizonte enquanto a brisa balançava seus cabelos de tom bem semelhante ao dos meus. Vi você como um irmão, ou quiçá um amigo, no qual eu daria o que tinha de mais valioso para protegê-lo. Aproximei-me lentamente, permitindo-lhe perceber o som de cada passo meu. Ajudei-o a levantar e, em seguida, você apontou para o pico da montanha. Logo entendi que estava disposto a arriscar esta escalada, enquanto eu estava insegura. Mas mudei de ideia quando você conseguiu me passar toda essa segurança através de um simples olhar.
  E assim fomos nós, subindo, fingindo, talvez, que não havia nada que abalasse essa meta. Olhei para baixo e vi uma bonita flor, na qual não identificava a espécie. Ainda assim arranquei de sua raiz e te dei, enfeitando-a com meu sorriso mais sincero possível. Você a segurou firmemente com a mão direita, enquanto sua mão esquerda apenas acariciava levemente a minha, como se não quisesse nada firme nessa situação. Voltamos a dar nossos passos curtos, porém subindo sempre. Até que nossas mãos desprenderam-se, fazendo com que  a ventania nos afastasse, e você acabou entrando em qualquer buraco ou caverna que aparentava ser prazerosa por dentro. Perdi você de vista, mas não me reprimi. Continuei caminhando, rindo, cantando. Dançava no canto dos meus olhos, cuja íris obtinha o mesmo tom que os meus cabelos.

  De repente, me deparo com seu sorriso outra vez. E lá estava você, com a aparência de anjo, porém com o olhar tendo intenções mais adversas. Desviei o meu olhar, que estava fitando o seu, e direcionei-o em suas mãos. Logo vi que estas estavam segurando não mais a flor que eu te dei, mas sim uma outra, de outra espécie, além de, dessa vez, estar na mão esquerda. Sim, desconfiei, mas até hoje não tive verdades comprovadas. Mas ignorei a situação e permiti que a sua mão direita se aproximasse da minha. Apertei-a, e te puxei para seguirmos em frente. E você acompanhava o ritmo, propondo correr mais rapidamente, segurando, dessa vez, a minha mão cada vez mais firme. Às vezes eu freava, tropeçava e pisava em algumas pedras, que me faziam escorregar e cair. Mas lá estava você, sempre me levantando e rindo da situação, me contagiando a fazer o mesmo. E assim fomos juntos. Quase chegávamos no ponto máximo que podíamos chegar um dia. Quase chegávamos no topo da montanha, onde sentaríamos exaustos, porém tranquilos e realizados, observando de longe a paisagem na qual deixamos para trás e na qual abrimos mão só para sentir essa sensação única, esse sentimento único.

  Mas você desistiu no meio do caminho. Quem sabe viu algumas pedras grandes demais para chutá-las passar pelo lado. Apenas virou-se para trás do obstáculo, e voltou ao seu ponto de origem. E me deixou lá, parada, solitária, sem direção, insegura, indecisa, incerta. Te deixei tão confuso assim? Será que este caminho que eu estava propondo não era o certo? Pois bem, tive tal consequência, o que, confesso, não foi tanta surpresa assim.
  Te perdi de vista, e minha última visão vinda de você foram suas mãos vazias, sem uma única pétala. Será que você já tinha soltado a flor bem antes e só fui perceber naquela hora? Não sei. Eu só quero que não solte mais nunca uma flor que tenham te dado. Jamais desperdice esse valor. Porque eu ainda te espero nesse eterno vazio que me persegue, que sempre perseguiu e que para sempre estará ao meu lado.

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