Café ralado

(Laís Moura)

Me arrependi de ter sentado na escada da varanda assim que senti o frio correr pelas minhas pernas. Olhei para a neve que corria pro chão - neve leve, o vento mudava a direção facilmente. Deixei meus olhos voarem, e metade andei metade rastejei para o chão úmido como se fosse uma cama de dormir.
Uma morte assim seria doce. Talvez deixar o frio congelar meu coração não fosse uma má idéia.
"Não seja ridícula, Lais. - Disse a mim mesma. - Olhe para você. Como o frio pode congelar alguma coisa que não tem mais calor nenhum?"
Então cerrei os olhos, fechados o suficiente para não definir nada e abertos o suficiente para ver cores, como um café ralado. Depois de minutos ou horas eu vi uma sombra sobre mim: era alguém me puxando para cima.
"Vamos, Lais. Vamos para a casa."
"Que casa?"
Esfreguei meus olhos e estava sozinha. Levantei pertubada e entrei numa cafeteria, pedindo um café ralado.

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