Se eu tivesse uma filha,

(Lais Moura)

eu diria a ela para andar sempre com aquela mochila bem velha, rasgada; Dessa forma os medos passariam pelos buracos. O peso deixa a caminhada um gosto amargo de infinito.
Diria a ela para voar alto, mas prestar atenção no pé (sempre tem alguma coisa segurando-o contra o solo). E se alcançar o céu, que não demore! O jantar pode esfriar.
Diria coisas sobre o amor, que mesmo o oceano beijando o rio ainda tem embaixo a areia, que se movida, suja: Ensinaria o que mover!
Se eu tivesse uma filha ela me chamaria de papel, pois como mãe já não sou eu que desenho: ela me desenha.
Ela nasceria orando. Desenharia anjos com as palavras e saberia, antes mesmo de sentir, que o melhor é andar descalça. Os pés são o que sustentam, então antes da boca, eles merecem sentir!
Ensinaria a andar devagar quando tivesse pressa, assim ela não perderia a oportunidade de olhar teias de aranhas dentre os arbustros.
Sobre homens? Ela já saberia como falar olhando nos olhos.
E isso, por si só, bastaria.

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