Sendo assim

(Lais Moura)

Santuário é igrejinha de ouro, segundo meus antepassados
Quando criança passava horas à olhar, mesmo não sendo católica
- Depressa! - Dizia você - O pôr do sol vai começar!
Lá eu ia,
Muitas vezes sozinha
E me deleitava naquele infinito laranja.
Ó clara neve que desce antes do crepúsculo,
Tão neve que lembrou-me teu sorriso.
E entre outras coisas pensava:
Artista, dizem, é aquele que transfere o que nunca sentiu
Vencedor, dizem, é aquele que atrai amores
Sendo assim, amadora derrotada sou eu
Que tenho a mania de te transformar em letras
E de repugnar qualquer outro amor.
Se virava e com minúsculos olhos perguntava:
- Esta tarde para sonhar de novo?
Santo homem, a sua pergunta já diz quem tu és.
Pode grudar-se em meu cotovelo,
Eu deixo.
Pode me perguntar aquilo que diz quem tu és,
Também deixo.
Mas as respostas são vazias se não vem de ti,
E irão preencher seu rótulo
Jamais seu íntimo!
E se vives de rótulo, santo homem
Não deixo grudar-se em meu cotovelo
E não deixo em perguntar aquilo que diz quem tu és.
Esvaziar-se-á primeiro eu depois você
Pois não poderei retirar o cisco do teu olho
Antes de retirar o tronco do meu.
Ó querido,
Afastado,
E utópico irmão.

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