Rede em teia

(Laís Moura)

Meia noite e quarenta e três, mais ou menos naqueles horários em que o som do teclado parece que triplica, como se propositalmente quisesse acordar meus pais. Eu trabalhava virtualmente com um grupo de hackers, que juntos tentávamos caçar provas comprometedoras de pessoas importantes.
Crime, você pode pensar. Sim, a princípio é crime - mas acredite, a maioria das informações e provas de corrupção e fraude de autoridades cujas fontes não são divulgadas saem de mim e dos outros seis. Quatro deles são americanos, dois japoneses e eu, brasileira. Nossos telefones são clonados, trocamos o computador a cada três meses, falamos inglês ambos e não sabemos os nomes uns dos outros.
Se eu soubesse, não poderia contar essa história.

(Minha mãe diz por aí que afundo no meu próprio mundo e sou rebelde. As amigas dela não acreditam muito nisso, por que não tenho furos, tatuagens ou cabelo descolorido como a maioria dos rebeldes são para essa geração de pais. Estereótipo puro.
Claro que, assim como eu, todos os outros tem vontade - mas nos disfarçamos. Um grupo de máfia do governo nos paga para sermos completamente insuspeitáveis; Então eu sou loira e uso um ridículo óculos de grau que cobre metade da minha cara.
Mas isso não interessa, de fato.)

- J.J deu o fora. - Disse A.A. - Aquele merdinha.
Olhei o relógio. Meia noite e quarenta e três.
- Deu o fora por quê? - Digitou M.M.
- Disse que não aguentava a pressão. Que não conseguia mais fingir alguém que não era. Bicha.
- Bosta, - teclei. - Ele era o que tinha mais contato com o tráfico de Washington. Lá se vai metade das nossas referências.
- Pare de ser mulherzinha, F.F. - Disse A.A. Ele acreditava firmemente de que eu era um homem, coitado. Eu também me esforçava para isso. -J.J colocou alguém no lugar, que passou pelo teste. Ele não só tem vínculo com Washington como toda a América Latina.
- Mentira. Como isso é possível?
- O cara é cheio da Grana. Parece que o pai é amigo de infância do Bill Gates.
- Ladainha. - Interveio M.M - Se fosse o governo não ia deixar ele entrar. Ele iria ser mais vigiado ainda.
- Mas é carne demais para ser dispensada. Acho que acabaram aceitando o risco. - Falei.
- Exato. - Disse A.A. - Cadê K.K. e T.T?
- Aqui. - Disse K.K.
- Eu. - Disse T.T.
- Desculpe, é que acho que estou encontrando alguma coisa sobre uma modelo famosa.
- Que modelo? - Perguntei.
- Aquela brasileira. Gisele sei lá o quê. - Respondeu T.T.
- E você, F.F.? Já está um tempinho sem agir, ahn? - Disse A.A.
Revirei os olhos. Eu de fato demorava para achar alguma coisa, mas quando achava era arrebatador. Coisas sobre o FBI, Barack Obama ou Osama.
- Tô dando duro, A.A. E de qualquer forma você não é ninguém para cobrar de mim.
- Ah, vá para a porra. Dou mais informações que você.
- Ah tá, você só acha rede de traficantes. Ninguém aguenta mais nada sobre drogas. - Falei.
- Não comecem não! - Falou M.M - Tô cansado dessa mesma briga de sempre. A.A., você não é líder, e F.F., você é um lerdo. Chega os dois.
- Oi gente.
Desconhecido. Todos se desconectaram, eu que demorei um pouco mais.
- Espera!
- O quê?
- Sou eu, merda, W.W. Quem mais seria?
- Já invadiram nosso chat, mas a sorte é que nos desconectamos rápido. Ai não pegaram nada. Porra, demorei demais. - Comparei o login desconhecido dele com o que A.A. tinha passado para a gente de que iria ser. Igual.
Meu telefone tocou.
- Que diabos você está fazendo on, seu viado?!
Era alguém. Alguém do grupo, e se ouvissem minha voz eu estaria ferrada. Forcei o máximo que podia:
- Conecte-se de novo.
- Por que sua voz tá estranha assim?
Desliguei.



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