Rede em teia (final)

(Laís Moura)

- Você acha de verdade que alguma coisa vai dar errado? Digo, na reunião. Não faz sentido marcarem assim tão às pressas se não for algo sério.
- Shiiiiu! - Sussurrei. - Podem ter pessoas por toda a parte nesse avião, você sabe. Só falamos quando temos a certeza de que estamos seguros.
Depois que decolamos enquanto pegávamos nossas malas, percebi M.M. lívido.
- Qual o problema?
- Na nossa diagonal, dois homens com casaco da GAP. São tiras, já estiveram me seguindo duas vezes. Cacete...
- E você acha que estão te reconhecendo?
- Não sei, mas é provável que sim. Temos que nos camuflar.
Ele olhou as pessoas que nos cercavam e como num ataque de desespero vi seus olhos desistirem.
- Vai ser sempre assim. Não vai mudar nunca.
Passei a mão pelas suas costas. Não disse uma palavra.
Ao nosso lado, um homem estava tendo dificuldade entre pegar a sua mala e acalmar o bebê. M.M. puxou-me pelo braço e me direcionou para a mulher, enquanto ele ajudava o cara nas malas.
- Oi. - Disse, percebendo que a mulher tava com dores. - Quer que eu o segure um pouco?
- Ah, minha filha, por favor. - Disse, passando aquela coisinha rosa para mim. O bebê foi se acalmando e estava visivelmente fascinado pelo meu óculos.
Dizem que os bebês gostam de coisas extravagantes.
Olhei pelo canto do olho para os tiras, que em sinal negativo de cabeça, saíram do local. O casal agradeceu a ajuda e então eu e M.M. fomos embora de uma vez.

- Mas por quê logo na casa branca? Com toda a segurança nacional cheirando nossos cangotes? - Disse eu para M.M., enquanto ele dirigia seu conversível.
- Não sei por quê lá. Mas com certeza é o lugar que menos procurariam a gente.
- Também, se acharem, estaremos mortos.
- O melhor amigo de Barack é o Chefão, droga. - Falou W.W.
- O quê?! Nosso chefe é o melhor amigo de Obama? QUE MAU CARÁTER! - Berrei.
- Ah, quem de nós aqui não é?!
- Ele só vigia nossos dados e divulga para a mídia, nós é que fazemos toda a porcaria, F.F. - Falou M.M.
Ficamos um bom tempo em silêncio.
- Por que vocês entrarem nessa? - Perguntei.
Silêncio.
- Não falo da minha vida pessoal, F.F. - Disse W.W. - Isso pode ser usado contra você depois.

Assim que entramos no gabinete e fecharam as portas - Graças ao meu bom Deus não topei com Obama - O chefe disse:
- Assim como vocês já foram informados, nosso grupo está aberto para entrada e saída de membros, quando agem fora do padrão. Então, por solicitação do nosso próprio membro W.W., faremos votação para retirada de nossa parceira F.F.
Esbugalhei meus olhos (inevitavelmente) e, quando mais iria falar, minha garganta secou.
Todos levantaram as mãos.
- Motivo: Descompromisso com seus deveres.
Permaneci sentada, sem saber como reagir.
- Adeus, F.F. Você já viu demais, e vai ser lembrada disso. Foi bom trabalhar com você.
Sorri. Dei o sorriso mais largo que já tinha dado na minha vida, pois sabia que ia querer me vingar e não ia fazer merda nenhuma, por isso fingi que ia fazer merda. Foi fácil.
- Silencie essa garota. - Ouvi o chefe dizer quando eu já tinha saído. - Faça o que for preciso, entendeu?
E logo em seguida W.W. me acompanhou.
- Entre no carro. - Falou ele. - Agora.
- Vá para o inferno, imbecil.
E continuei andando, atravessando aquela entrada espetacular que parecia caçoar de mim. Ele me agarrou pelo braço e disse:
- Se você quer viver entra no carro.
Olhei nos olhos dele - não duvidei. Então obedeci.
Ele arrancou e saiu a toda velocidade. Outro carro nos seguiu, então W.W. freiou bruscamente e jogou algo pequeno que soltava faíscas quando os inimigos passaram por nós. Então W.W. saiu de perto no exato instante que aquele carro explodiu.
- Eles iam torturar você e fazer você falar tudo. NÃO HESITE DA PRÓXIMA VEZ, ESTÁ OUVINDO?- Perguntou berrando.
- ESTOU, NÃO PRECISA GRITAR!
- VOCÊ TEM NOÇÃO DE QUE VOCÊ IA MORRER?! - W.W. chorava.
- E por que diabos você está tão preocupado com isso?! - Perguntei em português. - Você não me queria no grupo mesmo!
- Não questione meus motivos.
- Tô pouco me lixando pros seus motivos! Você acabou com minha vida, entendeu?! Acabou! O que você acha que vou fazer agora já que não pertenço mais aqui!? - Aquela altura quem tava chorando era eu.
Houve um tempo de silêncio até que ele falou:
- Dali a segundos todos vão morrer.
- O QUE DISSE?
- Obama descobriu nosso sistema. Você acha o quê, que íamos ficar escondidos para sempre? Claro que não. Então, todos lá vão virar picadinhos, F.F.
- Por que não avisou então!?
- Quem ia acreditar em mim?
- E como você sabe?
W.W. revirou os olhos.
- J.J. não saiu apenas por que cansou daquela vida. J.J. está morto.
- COMO ASSIM!?
- É. ele foi torturado. morreu de hemorragia. Mas já tinha saído quando o foi.
- Como você sabe?
- Eu sou sobrinho dos capangas que o mataram. Sou um infiltrado no grupo.
- Que diabo... ASSASSINO!
E abri a porta, pulando fora - mas antes que o fizesse ele me puxou pelo braço e me obrigou a ficar. Estávamos estacionados na frente de uma farmácia, e tive o intuito de sair correndo para dentro.
- Meus tios mataram - não eu. E falaram para eu tirar você de lá, sua mal agradecida, por que eles não queriam fazer picadinho de você.
Meu coração foi na boca.
- Mas por que justo eu?
- Não interessa. A gente só não pode ficar te salvando de cada merda que você faz, então se liga. Vou para a minha casa agora, e você vem comigo.
Não discuti.
- E você tá gata nessa camisa dos Yankees.

Entrei na casa de W.W, em São Paulo. Classe média, e a julgar pelas cores e desenhos a casa parecia ser decorada por um artista plástico. Observei ele entrar cuidadosamente, como se não quisesse ser notado.
- Meus pais tão viajando. Fica a vontade. Você pode ficar no meu quarto que eu vou pro quarto dos meus pais. Deixa sua mala na sala por enquanto para eu pegar umas coisas aqui do meu quarto e...
- Eu ajudo você a tirar sua coisas.
- NÃO,não, não precisa...
- Tá tudo bem, eu...
E então eu entrei.
- CACETE, como você é teimosa! - Disse entre dentes.
A primeira coisa que eu vi foi eu. Eu, estampada  na parede, em diversas poses, fotos. Eu indo para a escola, eu com minhas amigas (duas únicas), meus olhos, meu sorriso, meu óculos, meus dados, eu, eu pequena e mais umas 56843546874 fotos de mim na infância, e noventa por cento delas estava com meu vizinho, Álef.
- O QUE É ISSO? Que tipo de maníaco você é?
E me virei para olhar em seus olhos, e percebi.
- Álef.
- Oi, Lílian.
- Por quê tudo isso?
- Não podia deixar você morrer. Tinha que tirar você de lá. Meu pai e meus tios trabalhavam para o governo nisso, combate às máfias. Fui embora por isso, sem deixar aviso nenhum. Mas não consegui... tirar você... daqui. - E apontou para a cabeça.
- Você está me deixando com medo.
Ele sorriu. Cheirava à passado.
- Por favor, Lílian, fica aqui. Só hoje.
- Tudo bem, Álef. Tudo bem.
Continuei ali aquele dia e todos os outros 20 que se seguiram. Quando estava segura, voltei para a casa.
E Álef também.

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