Mentes doentias

(Laís Moura)

- Helena! - Gritou João Cândido no meio da noite. Levantou-se bruscamente e pôs-se a observar a lua, que tímida e medrosa se escondia atrás do céu que chorava. Não havia jeito! Helena se agarrou na mente do jovem músico de tal forma que era impossível respirar sem pensar na sua imagem. Ela estava em todos os cantos daquele quarto, e estava principalmente na lua que por raras vezes dava o ar de suas graças naquela minúscula janela.
 - Ó querida... - Suspirou. - Em que estarás sonhando agora?
 No dia em que se conheceram, João Cândido estava temeroso. Não sabia se ia ser aceito no seu novo trabalho, e a necessidade daquele emprego o deixava ainda mais nervoso do que se fosse uma simples entrevista. Todavia seu talento transbordava além de sua áurea, e o casal não hesitou em confiar nele como instrutor de música à sua adorada filha. Ele atravessou o salão e subiu as escadas de mármore, e lá estava ela com uma fita na cabeça e com um vestido de seda que era envolto de babados e morria na altura de seus joelhos.
 Foi amor à primeira vista.
 - Prazer, sir. Meu nome é Helena. - Disse, estendendo sua mão.
 - Prazer o meu, senhorita. - E ajoelhou-se, fazendo o possível para olhar para os seus pés e nada mais. Beijou sua mão quente e se levantou, sendo logo em seguida guiado até o ambiente onde se localizava um piano profissional, reluzindo brilho em todo o seu esplendor. Assim que a porta se fechou atrás dos dois, ela sorriu e seus olhos castanhos brilharam de emoção.
 - Estou me sentindo realizada.
 - Sempre quis tocar piano?
 - Sempre. Desde que me entendo por gente.
 - Meio caminho andado. - Disse o professor, olhando para as suas curvas magras e andando em direção ao piano. - Quantos anos você tem?
 - Sete. Faço oito mês que vem.
 - O número da criação de Deus.
 - Minha mãe fala a mesma coisa. - E depois de uma pausa retomou - E o senhor? Qual é a sua idade?
 - Dezenove anos.
 - Ah. O senhor é muito bonito.
 - São seus olhos. - Disse enrubescendo e se perguntando em que lugar se escondia a vergonha daquela criança.
 João Cândido olhou para o piano e começou a ensinar a teoria com desenvoltura, e ela assentia como se já soubesse de tudo. Ela cruzava e descruzava as pernas promiscuiadamente, e de repente a sala já estava muito quente para o fulano. A criança se levantou e pediu:
 - Toca uma música para mim?
 - Qual você quer?
 - Uma de sua autoria.
 Ele respirou fundo e começou a deslizar seus dedos pelas teclas, enquanto ela se firmou atrás de seu tronco e fechou os olhos, saboreando a melodia. Ao abrí-los, levou as pequenas mãos aos ombros de João e passou a dedilhar a canção como se ele fosse outro piano. Chegou mais perto e ele então pode sentir o roçar das pontas de seus cabelos negros, até que ela parou e ficou a massagear seus ombros. Era a melhor massagem que João Cândido estava recebendo na vida.
 - Helena, o que está fazendo? - Murmurou.
 - Continue tocando.
 Suas mãos logo subiram e seus dedos mergulharam no couro cabeludo do rapaz, que sentiu um calafrio.
 - Por favor, Helena, pare. - Disse João, se virando de frente a ela e segurando seus pulsos. Neste instante a porta se abriu, e Helena se debateu como se estivesse sendo violentada e lágrimas gordas rolaram sobre suas maçãs do rosto.
 - ME SOLTE! - E então finalizou a cena ao se jogar no chão.
 João se virou para a mãe pálida na porta e gaguejou:
 - Não senhora, não é isso que aconteceu!
 Logo se ouviram as sirenes, e o pobre diabo sem ter onde cair morto foi jogado numa cela de segurança máxima. Depois de 5 anos, a única pessoa que o visitava era Helena, que aparecia sempre na mesma hora e no mesmo lugar: em sonhos. Ao João despertar como se estivesse num êxtase, a única luz que parecia ser a do fim do túnel tinha como origem uma candeia, que fraca parecia anunciar que tudo ia terminar bem.

Comentários

Watt disse…
oi Laís, aqui é o Watt de novo, tudo bom?

De alguns textos seus que eu li, reparei que a moral de alguns deles segue de acordo com alguma situação que você vive ou já viveu (conheço você e Bárbara faz um tempinho... kkk). Teve algum, ou alguns, que foram mais marcantes?? Se sim, Quais?
Oii Lucas, tá tudo bem comigo, e com você? Sim, teve muitos que me marcaram, e você já sabe de todos UHASHUSAHUSUAHUHASHUASHUSUH
Watt disse…
Não, Não... Aki é Watson.

Holmes andava meio biruta das idéias até pouco tempo atrás, estou no lugar dele temporariamente para resolver alguns casos. Ele pediu pra te perguntar se você ainda está chateada com ele...

Se eu bem o conheço, ele deve estar morrendo de ciumes ou preocupação, mas como ele sempre me surpreende... Enfim, aguardo respostas minha cara colega, sua manifestação será elementar para descobrir o que acontece com o caso que Holmes não quis me contar direito.

Atenciosamente,
Watson
Anônimo disse…
Então se assim o prefere, que o seja!(bom, se tivesse chateada não estaria aqui, estaria? Afinal pedi só uma semana. Mas ciúmes? por qual motivo?) Enfim, pediu minha manisfeitação. Ei-la.
Bjo
Laís M.
Lucas disse…
Oi Laís, chega de brincadeirinha, agora é o Lucas mesmo rsrs. como descobriu que eu era o Watt? rsrs.

Eu tô bem, animadão e lançando uma série de projetos por aqui... e vc, como tu táh?

Deixei um email pra vc.
Bjo!

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