Missão Bosta Impossível

(Laís Moura)

Já avançado em idade, lá estava com 14 anos meu cachorro que ganhei lá pelos meus 2 anos de idade. Cego, um pouco surdo e com pouca força para andar, Nick sobrevivia pelos milhões de remédios triturados e misturados com a comida que ingeria. E num dia comum de recuperação, eu volto para casa e (sem sucesso) tento dormir. Naquele estado de iminência entre o sono profundo e o acordado, desperto de vez com uma tosse profunda e gosmenta, além de gemidos um tanto desnecessários vindo de minha irmã, Mariana.

- Mãe, mãe, eu...passando mal... - pausa entre uma respiração ofegante - O cachorro...a cozinha inteira...
Ignorando o show a parte, tentei voltar para a entrada de sono profundo. Olhei o relógio e vi que tinha que levantar - meu cochilo havia adrentado à noite - e mal humorada, levantei.
- Você vomitou? - Perguntei para aquele ser vermelho e dramático que estava sentado no sofá.
- Quase - Respondeu Mariana. - Volte a dormir, você vai ter aula amanhã.
- Tenho que estudar. - Respondi enquanto me dirigi ao banheiro - Vou tomar um banho antes.
- Não, depois você toma. - Disse ela - Você precisa me ajudar. O cachorro cagou a cozinha inteira, o cheiro está insuportável! Quase vomitei...
- É o quê?
- Meus pais não vão chegar tão cedo, e falaram para a gente limpar antes. Faz o seguinte: enche seu pulso de perfume, a gente vai sair pela porta de casa e entrar pelos fundos, que vai dar na cozinha. Já prendi o cachorro na sala, ai a gente entra e aí...
- Mariana. Respire.
Ela obedeceu em meio a caras de nojo. Então fui tranqüila com meu pulso de perfume até o local bombardeado e ela me seguiu atrás, completa de perfume. Tentava ligar para minha mãe para providenciar mais panos de chão (íamos jogar todos que usaríamos fora) quando ela desligou e disse:
- Já dá para sentir daqui.
- Não sinto nada, Mariana.
Saímos de casa e atravessando o jardim entramos pelas portas do fundo. Abri a porta da cozinha e fechei logo em seguida, desequilibrando pelo vapor quente e imundo que inundou nossas narinas. Ela se jogou no chão da garagem e tentou vomitar, mas só veio uma tosse gosmenta de novo.
- Espera aí.
Subi correndo e peguei um desodorante spray, que usando como munição inundei o ambiente com cheiro de morango enjoado. Ela com o pulso colado no nariz pegou desinfetante e jogou sobre o chão que de branco ficou marrom, fazendo com que o cheiro viesse em dobro para cima de nossos corpos. O olho dela lacrimejava enquanto jogava álcool e água sanitária (sim, ela jogou água sanitária) e quando adentrei mais profundamente com os panos de chão murmurei:
- Você tem noção de quantas reações químicas estamos respirando?
- Tenho. - Disse ela. - Comece pelas áreas menos concentradas.
E acabei com um desodorante inteiro só naquele ambiente, e quando por fim terminamos a limpeza do local fomos limpar as patas de Nick, que certamente teriam algum resíduo. Então, quando abrimos a sala, respiramos fundo (não tanto, por que o cheiro ainda tava forte) e olhamos o trabalho que teríamos a frente.
Ele tinha manchado a sala inteira só com as patas.
- Suba com ele nas escadas e limpe as patas dele enquanto eu tento achar algum pano que ainda não tenhamos jogado fora para limpar isso aqui. - Disse ela.
- Ah, e aí ele vai manchar a escada inteira também!
- Então leva para onde, Laís?
Olhei maliciosamente para a porta principal, e concluí como se fosse uma idéia genial:
- Para o jardim!
- Minha mãe te mata se sabe que você levou o cachorro com as patas de bosta para o jardim dela.
- Ora, fezes de animais são adubos!
- Fezes saudáveis!
Ignorando, peguei algodão molhado e levei-o até o jardim, limpando as patas que (realmente) estavam cheias de fezes. Mariana arrastou os pés com o pano até o jardim, e segurando os chinelos nas mãos entramos no ambiente que esperávamos estar completamente limpo. Deixamos tudo sujo no tanque, e quando subimos as escadas foi que vimos as manchas nas paredes.
Nos entreolhamos sem dizer mais nada, indo cada uma para seu canto.

Baseado em fatos reais.

Comentários

Rodrigo Vellame disse…
Coitado do Nick!
HSUAHASHASHASASASA

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