A iminência

(Laís Moura)

Algumas raras pessoas tem o destino de nascer com A iminência, que é o estado da vida da pessoa que ela está entre a plenitude e a depressão profunda. Os fantasmas (ou demônios) do passado circulam livrimente em sua volta, e sutilmente, arrancam desde a paz até a sanidade. E uma vez que se satisfazem, a pessoa não tem mais volta: ou fica hostil o resto da vida ou vai o suicídio.
Você pode me falar que não é nem um pouco raro, visto que a maioria da população hoje está em depressão e com altos índices de suicidos, mas esses casos não passam de um despreparo para a vida e de uma falta de amor próprio. Não, eu não falo desses casos. As pessoas que contém A iminência tem uma maturidade precoce, são comunicativas e desconfiadas (sendo que este ultimo atrapalhava meu trabalho, e eu meio que tinha que às vezes usar da força bruta). Muitas vezes quando eu salvava alguém o ser ficava desolado, se sentindo sozinho, mas logo depois se recuperava e talvez só entrasse na depressão se fosse aquela que está na moda nos dias de hoje. Por quê a depressão de verdade só é concebida a uns poucos desafortunados.
Quem sou eu? Interprete da forma que achar melhor. Vim aqui para falar da décima vida que salvei. Seu nome era Carla, e na época ela tinha 15 anos. Desconhecia o perigo que estava (o que é natural na iminência) e não fui muito bem recebido, visto que aparentava ter lá pelos meus 30 anos. Mas aquela mulher me fez ir além da força bruta. Fez com que por fim, eu me apaixonasse por ela.

- O que você quer afinal?
- Como assim?
- Você me conhece não tem nem uma semana e quer que eu vá ao cinema com você e seus amigos?
- Desculpe, mas eu não vi como um problema...
Ela sorriu para mim, e aquele sorriso angelical fez de mim um ser sedento de amor.
Mas eu tinha que realizar o meu trabalho.
Carla vivia uma vida confortável e estável. Gostava do que fazia, tinha muitos amigos, um bom senso de humor, e era muito educada. Tinha a aparência de ser muito mais velha, e identificava quando alguém percebia isso apenas com um olhar. Aquele olhar angelical...
- O que você tanto olha ao meu redor, Gabriel?
Eles estavam em toda a parte. Mudavam de forma e de tamanho rapidamente, e muitas vezes dormiam no colo de Carla, fazendo com que ela se familiarizasse com seus prováveis assassinos mentais. Eu ia salvar a vida dela - isso eu não tinha nem dúvida - mas aqueles fantasmas eram em número muito maior do que o normal, e eles atingiam seu corpo com força, entrando em seu íntimo. Ela, sempre tão segura de si mesma, jamais enchergava o que estava acontecendo com ela própria, e toda podridão investida nela era jorrada no desconhecido, naquilo que ela achava que via em alguns lugares ou em algumas pessoas.
Inclusive eu.
Depois de um mês, ela me permitiu que eu me locomovesse no seu círculo de amizades. Eu já era alguém bem-vindo, mas não eram poucas as ocasiões que ela me olhava de modo interrogativo. Eu nunca me acostumava com isso, mas pouco me importava. Eu antes de tudo me concentrava em seus traumas fantasmagóricos, e eles já notavam minha presença. Investiram com mais força, até que um dia ela me ligou dentre lágrimas falando que não queria nunca mais me ver.
Eu já sabia o que estava acontecendo. A iminência estava por um fio de ir embora.
- Me explique isso direito. - Disse indo até onde ela estava naquela esquina escura.
- Como chegou aqui tão rápido?
Olhei em volta. Não havia nenhum deles, e assim que eu saísse eles iam se apossar de verdade de sua alma. Iam fazê-la se matar.
- Escute Carla, você precisa confiar em mim, certo?
- Mas eu confio em você...
- Não confia. Por favor, confie em mim.
Abracei seu corpo baixo e magro, e sua confiança fez com que 3 deles fossem expulsos do seu corpo. Ela não notou diferença nenhuma, mas eles ficaram loucos de raiva.
- Feche os olhos. - E com um canivete decepei os três. Ela chorou amargamente, sentindo aquele vazio pós- iminência, mas ela não sabia que era pro bem dela. A medida que chorava mais eles se agitavam dentro seu corpo (pela forma que ela soluçava e tremia enquanto chorava) e após ter acabado com todos eles beijei sua testa e disse:
- Vou te levar para a casa. Shii. - E lá estava eu segurando as minhas lágrimas, desejando não ter que ir embora e não precisar salvar mais vida de ninguém. Eu estava na iminência, e suicide-me após Carla morrer de uma terrível enfermidade. Na beira da morte, vi que morri pelo o único fantasma que me atormentava, e seu nome era Carla.
Hoje não passo de um vento leve que sussurra árvores ao entardecer.

Comentários

Bruno disse…
Muito boom, Laís! ;D

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