Torres gêmeas

(Laís Moura)

O café foi o produto que impulsionou a economia brasileira desde o início do século XX até a década de 1930. Concentrado a princípio no Vale do Paraíba (entre Rio de Janeiro e São Paulo) e depois nas zonas de terra roxa do interior de São Paulo e do Paraná, o grão foi o principal produto de exportação do país durante quase 100 anos. Foi introduzida por Francisco de Melo Palheta ainda no século XVIII, a partir de sementes contrabandeadas da Guiana Francesa.
 E no dia 09 de setembro de 2001 eu estava preparando um café como todos os dias pela manhã, mas do nada a máquina de preparar o café quebrou. Xingando Deus e o mundo por não poder ter meus 10 minutos bebericando meu café e lendo meu jornal, sai de casa e fui enfrentar o trânsito, que por eu ter saído 10 minutos mais cedo me livrou 30 minutos dele.
 Quando atravessei o corredor pertubado por frequentes sapatos de salto alto andando para lá e para cá ouvi o telefone vindo do escritório do meu chefe tocar. Ele atendeu no primeiro toque, e bem quando eu estava passando pela frente de sua sala ele abriu a porta e falou:
 - Preciso de você agora.
Entrei na sala gélida, e ajeitando a minha pasta debaixo do meu braço perguntei:
- O que houve?
- A mulher do Carlos acabou de ter um filho, e ele não vai poder fazer a reportagem no Iraque hoje. Não posso simplismente cancelar o voo... Ia chamar o Roberto, mas como você chegou antes acho que você tem perfeitas condições de ir.
Engoli meus gritos de felicidade (queria aquela viagem desde que soube do seu projeto) e respondi:
- Que horas?
- Agora.
Me despedi e voltei para o corredor, indo em direção ao elevador. Não ouvi saltos agulha nem telefones tocando, apenas a sirene da felicidade.

X


Eu estava na fila de um restaurante simples à quilo, e enchugando o suor da testa pelo calor olhava de segundo em segundo para meu relógio. Estava atrasado para o encontro com um cara que ia passar algumas  pesquisas que tinha coletado, e perder aquelas pesquisas era a mesma coisa que perder a reportagem. Um iraquiano à minha frente percebeu minha inquietação e me deixou passar a frente, e agradecido peguei meu almoço e fui embora, comendo no caminho.
 Andei nem dez metros quando ouvi o barulho da explosão,e me virando de costas percebi que o restaurante que eu tinha acabado de sair estava acabado. Ambulâncias vieram a toda na direção de lá, e dentre os feridos estava o cara que tinha salvado minha vida. Acompanhei-o até o hospital (quem se importaria com matéria quando alguém salva sua vida?) e ao sentar no banco de esperava o médico geral veio até a mim, e com um sotaque carregado disse:
 - Ele tem que fazer uma cirurgia muito séria, que é mais realizada nos Estados Unidos.
 - Ah, certo, eu moro lá.
Paguei todas as despesas, e conseguindo as pesquisas pela noite voltei para casa no dia seguinte, preocupado com meu novo amigo Iraquiano. Ao chegar em casa, a primeira coisa que fiz foi ligar para o meu chefe e perguntei:
 - Teria como eu transferir meu turno de trabalho amanhã para a tarde? Eu queria visitar o  iraquiano que salvou minha vida, e o horário de visitas é pela manhã.
- Ah, sim, claro.
Acordei relativamente cedo e fui até o hospital. O trânsito estava bem pior do que eu imaginava, e quando liguei o rádio não acreditei no que ouvi. Era 11 de setembro de 2001, e o prédio que eu trabalhava tinha acabado de ser demolido.
E eu estaria morto, se não fosse mais uma vez pelo meu amigo. Me perguntei o que tudo aquilo queria dizer, entre lágrimas de satisfação que levaram embora tudo aquilo que me fazia tirar as noites de sono.




Baseado em fatos reais.

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