Encrenca

(Bárbara Suzart)


 - COMO É QUE É, MINHA MÃE?! - exclamei, apavorada.
 - Ah, Linda, é só vc pegar um ônibus e ir pra casa, eu não vou te pegar não, fala sério, estou muito ocupada. - ela disse, suspirando.
 Ao falar isso, deu vontade de jogar o meu celular no chão e pisá-lo. Fala sério, nunca que minha mãe faria isso. Mas, como era meia-noite e tinha medo de acordar alguém com o barulho forte e alto do celular caindo, inspirei profundamente e prendi a respiração por 5 segundos, me distraindo pensando numa música do Mágico de Oz - as músicas são ridículas, mas às vezes sempre me confortam, infelizmente.
 - Tá, mãe, agora como você sabe a próxima parada de um ônibus?
 - Espere num ponto, ora bolas, só podia ser loira... - brincou, embora sabendo que eu detestada essas piadinhas sem graça.
 Respirei.
 - Tá, mãe. Beijo.
 - Beijo, Linda!
 E ali estava, parada numa rua deserta e escura. Sentada num ponto de ônibus, não via nenhum carro passando por ali. Observava o mar com um reflexo esplêndido da lua cheia. Ouvia o som das ondas indo e vindo, no ritmo dos meus batimentos cardíacos. Estava indo tudo tranquilo, até que me dei conta de que havia um bordel bem ao lado do ponto. E parecia estar bombando geral, havia luzes coloridas piscando e música alta. Mas de repente, vi duas mulheres (aparentavam ser prostitutas) saindo de lá. Percebi que elas me olharam e cochicharam entre si. Travei, indignada. Será que estavam falando de mim?
 Não tive mais dúvidas quando uma delas veio até mim para tirar satisfações comigo:
 - Hey, saia daqui! Você está ocupando nosso território, sabia?
 Território? Desde quando um ponto de ônibus faz parte do terrtório delas?
 - Desculpe, mas eu só estou esperando um...
 - Não quero saber! A essa hora, esse lugar todo faz parte da gente. Não é hora da mocinha estar aqui, sabia?
 - Porquê não diz isso à minha mãe?! Foi ela que quis que eu pegasse um ônibus! E eu ainda não entendi a parte do terrítório... O lugarzinho de vocês está apenas do lado e...
 - Ô loira oxigenada, vai sair ou não?
 Parei para raciocinar e fuzilei ela com os olhos.
 - UAI! Que meda! - provocou a meretriz.
 - Agora que eu não saio mesmo! Tente me tirar daqui! - encarei-a.
 - Sério? - ironizou, fazendo um sinal à outra meretriz que estava no portão do bordel.
 A mesma entrou rapidamente e só saiu de lá com uma multidão de prostitutas. Arregalei meus olhos, trêmula. Só consegui pensar em uma coisa: "É agora que eu morro!"
 Enquanto as outras não chegavam, a que já estava aprontando barraco segurou meus braços. Mas uma coisa que o irmão do meu cunhado me ensinou são os golpes de defesa para mulheres. Sabia que um dia iria utilizá-los. Chutei a barriga da primeira que veio tentar ir pra cima de mim e levantei a que me segurava, girando-a e jogando no chão. Quando ela tentava se levantar, dei um chute na nuca dela e saí correndo. Foi aí que o ônibus chegou.
 O problema era que o ônibus acabou não parando no ponto em que eu estava. Mas isso tinha solução: segurei uma daquelas traves que ficam no fim do ônibus e peguei carona. Algo me dizia que eu tinha que olhar para trás, e foi o que eu fiz. Só via pontinhos correndo atrás, mas graças a Deus elas não alcaçaram.
 Cheguei em casa exausta, com meus cabelos "muito bem arrumados" e com minha cara pior que a das prostitutas, que não sabiam nem se maquiar direito. E adivinha quem chega na hora: minha mãe.
 - Nooossa, sua cara parece aquelas caras de general! Adorei!
 Quem dera se eu fosse um naquela hora, só por ter vontade de dar um tiro na cabeça dela.

Comentários

Postagens mais visitadas