E agora?
(Laís Moura e Bárbara Suzart)
Chovia. Tava com uma dor de cabeça horrível e com pensamentos negativos, me preparando para um retiro da igreja onde eu não conhecia praticamente ninguém. As pessoas eram bem receptivas e enquanto eu carregava minha mala pesada, observei-as com desalento.
Então, estava eu encharcada, quando avistei um garoto andando em minha direção. Seus cabelos e roupas estavam molhados, e ele me olhava curiosamente.
- Está com frio? - perguntou.
Percebi imediatamente que era mineiro.
- Mais ou menos. Qual é o seu nome?
- Cayo. E você?
- Melissa.
Ele sorriu e foi embora, não sem antes apontar o meu respectivo quarto. Fui fungando até ele, e joguei minhas coisas em cima da cama de baixo da beliche. Observei o sítio e as pessoas conversando e andei em direção ao salão de jogos, jogar pimbolim - a única coisa que prestava naquele dia. Ao chegar lá encontrei com o Cayo, e formamos duplas. Vencemos todos os jogos, e conheci novas pessoas nesse meio tempo.
Foi então que uma noite houve uma festa do retiro. Estava dançando alegremente com ele, quando ele fez uma pergunta esquisita:
- Hey, quer ficar comigo?
Demorou para cair a ficha do que ele acabara de falar.
- Como é que é?
- Sei lá, te achei legal e bonita. Senti uma atração por você de repente.
- Cayo, é um retiro de IGREJA! E não quero isso.
- Então tá, né.
Então ele saiu e foi entrar na roda das meninas. Observei-o discretamente, até que ele começou a sussurrar no ouvido de uma garota desconhecida - pelo menos para mim. Virei a cara quando percebi que ele iria se virar para olhar pra mim. E quando voltei a olhar, eles já estavam se beijando.
Saí da festa irritada. Estava chovendo muito - sempre tem que chover nesse retiro, fala sério - e eu estava sem casaco, como sempre. De repente, senti meu braço ser puxado. Me virei para ver e ter certeza de que era ele.
Era.
- Ficou com ciúmes? - provocou ele.
- Então aquilo era pra provocar ciúmes?!
- Não exatamente. Eu só a achei interessante.
- Ham, conhece em menos de 20 minutos e já pensa em ficar com ela, né? De boa, Cayo! E NÃO ESTOU COM CIÚMES!
- Mas então por que está irritada?
- Porque eu vi o quanto você é sacana! Mal me queixou e fica com outra qualquer! Foi bem eu não ter aceitado seu pedido, se não eu seria simplesmente mas uma na sua lista!
- Não, pois você é especial.
Então, ele me puxou para mais perto dele. E foi aí que nosso lábios se encontraram e se tocaram. No começo, queria me afastar rapidamente, pois achava ridículo isso dele, embora romântico. Mas depois acabei retribuindo ao beijo. Nossas respirações se encontravam e se afastavam ritmadamente. Até que uma hora, nosso lábios se afastaram, enquanto a água da chuva escorria por todo nosso corpo. Olhei para ele e corri para o dormitório feminino.
No outro dia, ficamos frios um com o outro. De repente, chegou um homem vindo em minha direção.
- Precisamos falar contigo. - disse, dirigindo-se a mim - Siga-me.
Obedeci. Chegamos numa sala onde estava umas pessoas - das quais eu não as conhecia - e Cayo. Uma mulher iniciou a conversa.
- Ficamos sabendo do ocorrido de ontem.
Travei.
- Impossível. Não contamos à ninguém!
- Muita gente pode ver, senhorita. Isso foi errado, não queremos que isso se repita.
Olhei para Cayo, que estava com uma cara de entediado, aparentando estar irritado.
Depois da conversa desnecessária, fui conversar com Cayo, que por sinal, estava com suas malas na mão.
- Você vai embora?
- Não aguento mais essa igreja! Não deveria nem ter vindo! Adeus.
E sumiu de vista, sem se despedir de mim. Uma lágrima atravessou o meu rosto pálido.
******************************
Semanas se passaram e voltei para minha casa. Fiquei desanimada ao saber que as aulas estavam começando. Mas logo no primeiro dia, tive uma surpresa inacreditável.
Cayo estava lá.
Corri e o abracei fortemente.
- Como você conseguiu vir para cá?
- Meu pai foi transferido para cá para Salvador. Foi bom te ver novamente e saber que estamos no mesmo colégio, na mesma sala!
Duas semanas se passaram e ele me pediu em namoro. Eu aceitei, alegre. Esse tempo que ficamos juntos foi ótimo, mas, infelizmente, ocorreu algo inesperado. Depois de um mês de colegial, houve um imprevisto e ele teve que voltar para Minas Gerais com a família. Tivemos que terminar nosso namoro, mesmo nos amando.
No entanto, 7 anos se passaram e eu não o esquecia. Já estava com 22 anos, quando alguém bateu na porta da minha casa. Abri e lá estava ele, ajoelhado, com um anel na mão.
- Quer casar comigo?
- Você não mudou nada. - disse, sentando em seus joelhos e dando um beijo doce em seus lábios.
******************************
Era frequente a quantidade de vezes que perguntavam se éramos irmãos. Não via nenhuma semelhança entre nós, e levava tudo numa brincadeira rotinal. Ele ia pro trabalho de manhã, eu ia trabalhar depois da tarde; Conversávamos, assistíamos TV, tudo sem nenhum questionamento.
Era um sábado. Fomos visitar os pais do Cayo na casa deles, e eles animados, mostravam fotos e memórias.
Meu mundo desabou numa delas.
- Ah, esse seu sogro não gosta muito. - disse a mãe dele, enquanto eu secava a imagem com os olhos. - Era um antigo namorado meu, que é meu amigo até hoje. Cá entre nós querida, tivemos até um caso enquanto eu estava casada.
- O QUÊ?
- Sério,mas isso é passado, faz mais de 20 anos!
- Eli. O Cayo é filho dele né?
- É claro que sim, é a cara dele! Igualzinho ao Roberto.
Senti um frio na barriga, e uma gota de suor frio correu pela minha testa.
- Eli. Roberto é irmão do meu pai.
- ROBERTO É O QUÊ?
- Exatamente. - disse, correndo os olhos pelo álbum. - Eu e o Cayo somos primos.
- Meu Jesus Cristo!
**************************************
Fiquei em estado de choque durante uma semana. O risco de algum filho nosso nascer defeituoso era muito grande, e acabamos decidindo fazer melhor: adotamos.
Não pensamos nem duas vezes no nome.
Roberto.
Chovia. Tava com uma dor de cabeça horrível e com pensamentos negativos, me preparando para um retiro da igreja onde eu não conhecia praticamente ninguém. As pessoas eram bem receptivas e enquanto eu carregava minha mala pesada, observei-as com desalento.
Então, estava eu encharcada, quando avistei um garoto andando em minha direção. Seus cabelos e roupas estavam molhados, e ele me olhava curiosamente.
- Está com frio? - perguntou.
Percebi imediatamente que era mineiro.
- Mais ou menos. Qual é o seu nome?
- Cayo. E você?
- Melissa.
Ele sorriu e foi embora, não sem antes apontar o meu respectivo quarto. Fui fungando até ele, e joguei minhas coisas em cima da cama de baixo da beliche. Observei o sítio e as pessoas conversando e andei em direção ao salão de jogos, jogar pimbolim - a única coisa que prestava naquele dia. Ao chegar lá encontrei com o Cayo, e formamos duplas. Vencemos todos os jogos, e conheci novas pessoas nesse meio tempo.
Foi então que uma noite houve uma festa do retiro. Estava dançando alegremente com ele, quando ele fez uma pergunta esquisita:
- Hey, quer ficar comigo?
Demorou para cair a ficha do que ele acabara de falar.
- Como é que é?
- Sei lá, te achei legal e bonita. Senti uma atração por você de repente.
- Cayo, é um retiro de IGREJA! E não quero isso.
- Então tá, né.
Então ele saiu e foi entrar na roda das meninas. Observei-o discretamente, até que ele começou a sussurrar no ouvido de uma garota desconhecida - pelo menos para mim. Virei a cara quando percebi que ele iria se virar para olhar pra mim. E quando voltei a olhar, eles já estavam se beijando.
Saí da festa irritada. Estava chovendo muito - sempre tem que chover nesse retiro, fala sério - e eu estava sem casaco, como sempre. De repente, senti meu braço ser puxado. Me virei para ver e ter certeza de que era ele.
Era.
- Ficou com ciúmes? - provocou ele.
- Então aquilo era pra provocar ciúmes?!
- Não exatamente. Eu só a achei interessante.
- Ham, conhece em menos de 20 minutos e já pensa em ficar com ela, né? De boa, Cayo! E NÃO ESTOU COM CIÚMES!
- Mas então por que está irritada?
- Porque eu vi o quanto você é sacana! Mal me queixou e fica com outra qualquer! Foi bem eu não ter aceitado seu pedido, se não eu seria simplesmente mas uma na sua lista!
- Não, pois você é especial.
Então, ele me puxou para mais perto dele. E foi aí que nosso lábios se encontraram e se tocaram. No começo, queria me afastar rapidamente, pois achava ridículo isso dele, embora romântico. Mas depois acabei retribuindo ao beijo. Nossas respirações se encontravam e se afastavam ritmadamente. Até que uma hora, nosso lábios se afastaram, enquanto a água da chuva escorria por todo nosso corpo. Olhei para ele e corri para o dormitório feminino.
No outro dia, ficamos frios um com o outro. De repente, chegou um homem vindo em minha direção.
- Precisamos falar contigo. - disse, dirigindo-se a mim - Siga-me.
Obedeci. Chegamos numa sala onde estava umas pessoas - das quais eu não as conhecia - e Cayo. Uma mulher iniciou a conversa.
- Ficamos sabendo do ocorrido de ontem.
Travei.
- Impossível. Não contamos à ninguém!
- Muita gente pode ver, senhorita. Isso foi errado, não queremos que isso se repita.
Olhei para Cayo, que estava com uma cara de entediado, aparentando estar irritado.
Depois da conversa desnecessária, fui conversar com Cayo, que por sinal, estava com suas malas na mão.
- Você vai embora?
- Não aguento mais essa igreja! Não deveria nem ter vindo! Adeus.
E sumiu de vista, sem se despedir de mim. Uma lágrima atravessou o meu rosto pálido.
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Semanas se passaram e voltei para minha casa. Fiquei desanimada ao saber que as aulas estavam começando. Mas logo no primeiro dia, tive uma surpresa inacreditável.
Cayo estava lá.
Corri e o abracei fortemente.
- Como você conseguiu vir para cá?
- Meu pai foi transferido para cá para Salvador. Foi bom te ver novamente e saber que estamos no mesmo colégio, na mesma sala!
Duas semanas se passaram e ele me pediu em namoro. Eu aceitei, alegre. Esse tempo que ficamos juntos foi ótimo, mas, infelizmente, ocorreu algo inesperado. Depois de um mês de colegial, houve um imprevisto e ele teve que voltar para Minas Gerais com a família. Tivemos que terminar nosso namoro, mesmo nos amando.
No entanto, 7 anos se passaram e eu não o esquecia. Já estava com 22 anos, quando alguém bateu na porta da minha casa. Abri e lá estava ele, ajoelhado, com um anel na mão.
- Quer casar comigo?
- Você não mudou nada. - disse, sentando em seus joelhos e dando um beijo doce em seus lábios.
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Era frequente a quantidade de vezes que perguntavam se éramos irmãos. Não via nenhuma semelhança entre nós, e levava tudo numa brincadeira rotinal. Ele ia pro trabalho de manhã, eu ia trabalhar depois da tarde; Conversávamos, assistíamos TV, tudo sem nenhum questionamento.
Era um sábado. Fomos visitar os pais do Cayo na casa deles, e eles animados, mostravam fotos e memórias.
Meu mundo desabou numa delas.
- Ah, esse seu sogro não gosta muito. - disse a mãe dele, enquanto eu secava a imagem com os olhos. - Era um antigo namorado meu, que é meu amigo até hoje. Cá entre nós querida, tivemos até um caso enquanto eu estava casada.
- O QUÊ?
- Sério,mas isso é passado, faz mais de 20 anos!
- Eli. O Cayo é filho dele né?
- É claro que sim, é a cara dele! Igualzinho ao Roberto.
Senti um frio na barriga, e uma gota de suor frio correu pela minha testa.
- Eli. Roberto é irmão do meu pai.
- ROBERTO É O QUÊ?
- Exatamente. - disse, correndo os olhos pelo álbum. - Eu e o Cayo somos primos.
- Meu Jesus Cristo!
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Fiquei em estado de choque durante uma semana. O risco de algum filho nosso nascer defeituoso era muito grande, e acabamos decidindo fazer melhor: adotamos.
Não pensamos nem duas vezes no nome.
Roberto.
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