Iuri

(Laís Moura e Bárbara Suzart)

 Eu e Bárbara andávamos de bicicleta indo pro primeiro dia de aula. Fazia um frio que atingia o espírito, e ela suspirava entre o bater de dentes. Estávamos meio grogues por termos virado a noite de ansiedade, e a minha vista tava meio embaçada.
 - LAÍS!!!!!
 - O QUE FOI?!
 - VOCÊ ATROPELOU UMA VIUVINHA!
 Me imaginei passando por cima de asinhas pretas de listras brancas de 5 centímetros. Não consegui.
 Ignorei a manifestação exagerada enquanto estacionávamos; Tiramos nossos capacetes e pegamos nossas mochilas em sincronia, e entramos no colégio.
 Ah, se eu soubesse o que me esperava...

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 A primeira semana foi assustadora, a segunda foi assustadoramente entediante. Odiava rotinas, mas era inevitável ter uma em época escolar. Para matar minha angústia, observava meus novos colegas, e criei estereótipos. Dentre todos os abraços, brigas, fofocas, cabelos lisos e sono excessivo, me concentrei em um deles.
 Iuri.
 Ele fazia parte da elite popular da sala, mas falava com todos; Participante nas aulas, sorriso na cara, sempre investindo em algo mais, algo que eu não tinha uma definição. Simplesmente não entendia a relação dele com as outras pessoas, elas eram próximas, mas ao mesmo tempo distantes.
 Aproveitei meu momento paranóico (do qual me deixa mais alerta e ágil no raciocínio) e passei todo meu tempo livre observando-o. Criei estratégias, observei as pessoas observando, e senti um toque de repulsa.
 Fui investigar.
 Um dia, estava no colégio. Então, de repente, Iuri veio andando em minha direção, aparentando querer me dizer alguma coisa.
 Gelei. Mas então ele veio e me cumprimentou.
 - Olá! Tudo bem? Seu nome é Laís, né?
 - Sim, e o seu é Iuri, não?
 - Aham, prazer!
 E assim, viramos muito amigos. Não vi diferença nisso, ele era carinhoso, gentil. Não sei como ele não podia ter amigos verdadeiros, mesmo. Mas não ligava. O tempo foi passando, nossa amizade foi aumentando e minha preocupação sobre as pessoas não se aproximarem tanto assim dele foi diminuindo, e ai eu esqueci.
 7 meses depois, fui fazer um trabalho na casa dele junto com Bárbara e outros colegas. Entrei no elevador, apertei o 12, e buzinei.
 Iuri atendeu, sorridente. Já estava todo mundo lá, e entrei me juntando a eles. Bárbara me chamou para ir no banheiro e cochichou:
 - Cara, esse lugar é sinistro!
 -  Não vi nada de errado.
 - Sei lá, o ar aqui é tão pesado!
 E aí as minhas suspeitas paranóicas enferrujadas começaram a trabalhar.
 Vantagem número um: eu já podia perguntar qualquer coisa a ele;
 Vantagem número dois: Eu tava na casa dele, então encurralar ele em algum lugar vazio era mais fácil,
 Desvantagem: Eu não fazia ideia de como falar isso.
 E a desvantagem falou mais alto.
 Quando sai do banheiro, Iuri tava lá, sério.
 - É difícil esconder coisas de você.
 Ele me guiou até a varanda da sala e observou a paisagem alta. Olhou para trás, se certificando de que não tinha ninguém, e segurando minha mão, pulou. No meu desespero, pulei para o prédio da frente.
 Me esborrachei toda, mas estava lá. Em cima do prédio que ficava a 20 metros do prédio de Iuiri.
 - Foi bem para a primeira vez. - Disse ele. - Agora você vê?
 Esfreguei os olhos, com um embrulho no estômago.
 - Saltadores é o que somos. Desafiamos a gravidade, por isso o ar meio negativo em nossa volta. A medida que pulamos, mais negativo fica.
 - Precisava me mostrar isso? - Disse, enfezada.
 Ele sorriu, me ajudando a levantar.
 - É seu destino, Laís. Você não pode fugir dele.
 Vomitei até por minhas tripas para fora.

Comentários

Rodrigo Vellame disse…
200 visitas !
\Õ/
hsauashassaasa
vcs merecem !
bjs;*
Rodrigo Vellame disse…
300 visitas !
\Õ/
hsauashassaasa
vcs merecem !
bjs;*
de novo de novo !

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