O jogo do copo - Parte I

(Bárbara Suzart)

 Estava no mês de junho quando tudo começou. Eu e meus amigos - Mônica, Chiara, Alice, Thiago, Pedro e Bernardo - viajamos para a Amazônia, para comemorar nossa independência, já que todos nós já tínhamos completado 18 anos. Estávamos em busca de aventura e diversão, sem preocupação de absolutamente nada.
 Saímos animados do aeroporto e fomos direto para a casa que alugamos, que, por sinal, ficava no meio do mato. Enquanto limpávamos a casa - que parecia estar abandonada, praticamente, pois só tinha teia de aranha, vamos combinar -, conversávamos e brincávamos. Claro que discutimos, poucas vezes, mas depois que se passava um minuto, já estávamos conversando livremente. Porém, teve uma tarde que não tínhamos absolutamente nada para fazer, estávamos olhando um para cara do outro. Até que Bernardo teve a brilhante ideia do jogo do copo.
 - Ei, que tal jogarmos o jogo do copo?
 - Jogo do copo? - estranhei, indignada.
 - É aquele famoso jogo do copo, nunca ouviu falar? - perguntou-me ele.
 - Sim, agora não vejo necessidade.
 - Sabrina tem razão, eu que não vou brincar com espíritos. - falou Mônica.
 - Não vejo problema de jogar esse jogo, gente, dizem que é mentira! - disse Pedro.
 - Pois é, também não vejo problema. - concordou Alice.
 - Ah, gente, não quero brincar disso não. - negou Chiara, assustada.
 Thiago se levantou, sério, e disse:
 - Eu aconselho a não jogarem. Não é bom brincar com espíritos.
 Bernardo logo tomou a frente:
 - Ah, colé, Thiago, se você tá com medo fala logo!
 - Quem disse que eu estou com medo? Só temo pela vida de meus amigos.
 Thiago saiu, com expressão de tranquilidade no rosto.
 - Aonde você vai? - perguntou-lhe Pedro.
 - Vou explorar a floresta, talvez não volte tão cedo assim.
 Suas palavras me assustaram. Ele desapareceu entre as árvores, só depois percebi que estava trêmula. Eu já estava indo atrás dele, para impedí-lo de que ocorra algum perigo, mas Pedro me segurou.
 - Deixa ele, ele vai ficar bem. Pode ficar tranquila, é melhor não perseguí-lo.
 Silêncio profundo.
 - Bom, quem topa jogar? - perguntou Bernardo.
 - Já topei! - exclamou Pedro.
 - Também. - aceitou Alice.
 Eu estava indecisa, mas acabei aceitando.
 - O.k., eu jogo. - aceitei, ainda indecisa.
 - O quê? Até você, Sabrina? Tá maluca? Thiago tem toda razão! Não é bom brincar com espíritos! Eu que não vou jogar! - disse-me Mônica.
 - Mas Mônica, é só um jogo, por quê não participar? Já imaginou contar essa história para os netos? - disse, num tom empolgante.
 Mônica me encarou, e eu decidi permanecer calada.
 - Ah, Mônica, tá com medo que nem Thiago é? - provocou Alice.
 - Não, nem um pouco. Só acho que esse jogo tem vários riscos trágicos. Acho não, tenho certeza!
 - Então, se você não participar, não vai poder observar. Vai dar uma de Thiago e vai "explorar" a floresta, sabendo que os riscos são maiores, com animais selvagens, insetos venenosos? - amedrontou Alice.
 Mônica ficou em silêncio durante uns 30 segundos. Pra piorar a situação, Pedro falou:
 - Jogar é melhor que desaparecer na floresta. Se você não jogar por bem, vai jogar por mal!
 Ela se assustou. Me surpreendi ao ver que ela aceitou. Mônica nunca foi de fazer algo forçado, independente da situação. Agora, a única que restara era Chiara.
 - Vamos lá, Chiara, todo mundo vai, menos Thiago. Agora só falta você. - Bernardo tentou convencê-la.
 - Bom... Eu não sei...
 - Qual é, Chiara, prefere ficar lá fora, no meio da mata? - Alice conseguiu convencê-la.
 - Tá bom, tá bom, eu vou!

X

 - Pronto! Eu e Pedro fizemos o tabuleiro ótimo! - disse Bernardo, empolgado.
 - Estamos com o copo de vidro aqui. - disse Alice.
 - Então, vamos começar!
 Ajoelhamos ao redor do tabuleiro, colocamos o copo no centro e demos as mãos. Bernardo tomou a iniciativa.
 - Agora, iniciaremos a oração. Devemos orar o "Pai Nosso" e a "Ave Maria", lembrando que não se pode dizer "Amém" no final.
 Oramos calmamente. Quando terminamos, Pedro perguntou:
 - Quem será o porta-voz?
 - Pode ser eu. - falou Bernardo.
 Colocamos nossos dedos em cima do copo. Bernardo respirou fundo e começou.
 - Tem algum espírito presente?
 Após 10 segundos de silêncio, o copo começou a se mexer sozinho, indo para a palavra "Sim". Eu travei.
 - Qual é o seu nome? - Bernardo fez outra pergunta.
 O copo foi lentamente para a letra "B". Depois, para a letra "O". Depois passou para a letra "C". E parou aí.
 - Boc? O nome dele é Boc? - interrogou Pedro, estranhando.
 De repente, o copo foi radidamente para a letra "O". Alice decidiu brincar.
 - Aê, ele disse que o nome dele é BOCÓ!
 Eu ri, mas depois segurei a risada, pois se tratava de algo sério.
 - Será que é esse nome mesmo? Sei não, nunca vi alguém com esse nome... - estranhou Mônica.
 - Ah, sendo ou não sendo o nome dele, vamos continuar. Bernardo, pergunta se ele é um espírito do bem ou do mal. - pediu Chiara.
 Bernardo obedeceu.
 - Você é um espírito do bem ou do mal?
 Ele não respondeu. Ficamos em determinado silêncio numa duração de, mais ou menos, 40 segundos. Até que Mônica começou a tremer, de cabeça baixa e olhos fechados, assustando a todos.
 - Mônica, tá tudo bem? - perguntou Chiara.
 Sem mais nem menos, Mônica gritou. Seu rosto estava diferente, seus olhos estavam diferentes. Sua expressão estava diferente. Não era a Mônica que eu conhecia. Arregalei meus olhos, trêmula. De repente, Mônica caiu no chão. Alice colocou seu ouvido no peito esquerdo dela. E então, começou a chorar.
 - Não consigo ouvir os batimentos do coração dela. Ela p-p-parece estar m-m-m-morta!
 Não aguentei, chorei muito. Chiara fez o mesmo. Pedro e Bernardo estavam tão assustados que não se deram conta do ocorrido. Eu me desesperei, necessitava sair.
 - Eu vou sair desse jogo!
 - Precisa de permissão para sair. - relembrou-me Pedro.
 Respirei fundo. Coloquei meu dedo sobre o copo e perguntei:
 - Posso sair?
 Devagar, o copo foi para a palavra "Não". Comecei a tremer, pensando na possibilidade de nunca poder sair do jogo. De repente, o copo, rapidamente, foi para a letra "C". Depois, para a "H". Em seguida, para a "I". Depois, para a "A", e em seguida, o "R" e a "A".
 - Acho que ele está te chamando, Chiara. - disse Pedro.
 - Percebi. - falou, tremendo.
 O copo foi a várias letras, formando a frase "Te darei algo que você sempre pediu.".
 Chiara suspirou, aliviada. Imaginou que era algo bom. Mas se o espírito era um espírito mal - ele não precisou nem responder aquela pergunta de Bernardo sobre se o espírito era bom ou ruim, pois o que ele fez com a Mônica não é coisa de um espírito bom - como daria algo de bom para Chiara? Comecei a imaginar em algo que Chiara sempre pedia que era coisa ruim. Então, Chiara pediu para Bernardo perguntar que coisa era. Foi o que ele fez.
 - O que é que Chiara sempre pediu que você dará para ela?
 O copo não foi a nenhum lugar. Esperávamos calados para que ele desse um sinal de vida. Mas então chegou Thiago chutando o copo, fazendo-o quebrar.
 - Tá maluco, Thiago?! - reclamou Bernardo - Deve pedir permissão para sair! E agora não dá nem mais para jogar! Você quebrou o copo!
 - Vocês é que estão malucos! Matam uma amiga e continuam nessa brincadeira idiota! Eu avisei! Mas ninguém me ouve! A que mais me ouviu morreu agora! Vocês não têm ideia de como isso vai pesar para vocês! Ela nem queria jogar isso, e vocês a forçaram! - rebateu Thiago, aumentando seu tom de voz.
 Abaixamos nossas cabeças, arrependidos. Thiago continuou:
 - Agora são seis horas da tarde! Não está nada cedo, não se tem mais nada a fazer a não ser enterrar a Mônica...
 Todos nós soluçávamos de tanto chorar. Alice às vezes passava muito mal enquanto via nossa preciosa amiga sendo enterrada. Sempre quando eu ia para um velório, sempre era de manhã. Mas dessa vez era diferente, e ainda por cima, só tinha árvores ao redor. Não parava de sentir arrepios por todo o meu corpo. Fiquei tão apavorada que minha visão começou a ficar escura e eu caí. Acabei desmaiando.

 Acordei ouvindo os passos de alguém. Olhei para o relógio e vi que eram 3 horas da manhã. Olhei para o lado e não vi Chiara em sua cama. Me levantei e fui seguí-la. Vi sua sombra descendo as escadas, lentamente. Fiz o mesmo, e quando cheguei lá em baixo, sem que ela perceba que eu estava lá, escondida, a vi ajoelhada em frente do tabuleiro, com um novo copo, falando tão baixo que nem consegui ouvir. Será que ela é uma outra "eu" da vida falando sozinha? Não, não era. Fiquei muito tempo lá, pensando e observando-a. Depois percebi logo que ela estava falando com o tal espírito, consegui ouvir apenas uma coisa que ela falou.
 - Diga-me, o que é que sempre quis?
 Subi com calma, porém, desesperada. Precisava acordar o povo antes que Chiara fizesse uma besteira em sua vida. Acordei todos, mas pedi para que eles não fizessem barulho. Porém, tínhamos que impedir uma loucura.
 Descemos em silêncio novamente para a casa e nos escondemos. Fiquei quebrando minha cabeça de algo ruim que Chiara sempre quis. Em seguida, Chiara arregalou os olhos, logo percebi de algo que ela também percebera: Chiara sempre quis a morte. Sempre que ocorria uma situação grave na vida de Chiara, ela sempre pedia para morrer e morrer.
 Chiara se levantou, do nada, e foi até a cozinha. Fiquei esperando e imaginando o que ela poderia fazer lá. E quando ela voltou, chegou com uma faca de cortar carne e se ajoelhou em frente do tabuleiro. E quando ela estava prestes a perfurar o lado esquerdo do peito, Pedro correu até ela e a impediu.
 - Não faça isso! Enlouqueceu de vez, Chiara?!
 - Me larga! - gritou, empurrando Pedro contra parede.
 De repente, um lustre se quebrou e caiu em cima de Chiara, matando-a. Corri até ela, estava cheia de sangue. Tinha tanto sangue que eu não aguentava mais, estava passando mal. Comecei a gritar, apavorada. Alice entrou em pânico.
 - Tá vendo, Bernardo?! Foi tudo ideia sua! Agora mais uma pessoa morreu! - reclamou Alice, chorando.
 - Nossa... Foi tudo culpa minha... - lamentava Bernardo, desabando de chorar.
 Todos nós choramos muito. Thiago tirou o lustre de Chiara e a segurou, levando para fora, para enterrá-la do lado da Mônica. Durante o enterro, sentia minhas lágrimas atravessando o meu rosto, indignada. E quando olhei para o céu, já estava amanhecendo.
 Continua.

Comentários

Roddy disse…
Eu que ajudei, ficou perfeita !!!
Anônimo disse…
Parabens a historia fooi muito bem escrita . Deviam fazer um livro ;)

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