O jogo do copo - Parte II
(Bárbara Suzart)
Obs: É recomendável ler antes o conto "O jogo do copo".
Durante poucas semanas depois da morte da Mônica e da Chiara, as coisas nunca mais foram as mesmas naquela casa. Sempre acordava no meio da noite, chorando, dizendo que sonhara várias vezes com o espírito que nos atormentava. Sem contar que sempre via Alice gritando, dizendo que viu espírito em sua frente. Sem contar que sempre via Thiago sóbrio, Pedro reclamando que o espírito nunca o deixava em paz, que sempre soprava seus ouvidos. E Bernardo sempre chorava, arrependido, e sempre gritava e exclamava que era o culpado de tudo, que o tal Bocó sempre dizia que ele era extremamente fraco e o culpado de todo o ocorrido.
Já era impossível prosseguir naquele estado. Por isso, decidimos voltar pra Salvador e nos juntar com nossos outros quatro amigos pra tomar uma decisão, pois estávamos abatidos e cansados pra decidir algo útil naquele momento. Após desembarcar no aeroporto, encontramos Cauê, Eric, Giovanna e Lara, nossos amigos, eu prefiro nem imaginar, como nós estávamos horríveis em tudo, pois o nosso sofrimento se refletia nas expressões deles, que tentaram ao máximo nos acolher. Nos reunimos na casa do Thiago, para chegarmos à conclusão da qual nos arrependemos.
- O melhor seria ficar, e tentar ignorar ao máximo, se voltarmos, tudo pode acontecer. Aquela casa deve ser assombrada, não sei como vocês aguentaram. - aconselhou Lara.
Desde que havia nos encontrado, ela não havia se separado um minuto do seu namorado Bernardo.
- Ficar e ser atormentado pela vida toda? Acho que não! - afirmou Bernardo, indignado.
- O melhor seria voltarmos, e tentar resolver essa situação, mesmo que possam acontecer coisas piores do que já aconteceu. - sugeriu Eric.
Ficamos conversando por um bom tempo tentando encontrar uma solução, até que fizemos a escolha errada de voltar para aquele lugar.
O desespero estava muito visível na cara de algumas pessoas, Alice por exemplo, estava tremendo muito, até que seu namorado, Cauê, começou a segurar sua mão e falou pra ela:
- Não fique com medo Alice, vai ficar tudo bem, confie em mim.
Percebi que ela estava se sentindo confortada com suas palavras, mas ela ainda estava trêmula, uma coisa ruim estava para acontecer.
Logo no dia seguinte, pegamos um vôo para a Amazônia, eu realmente não queria que Giovanna, Cauê, Lara e Eric fossem conosco, pois eles estavam sujeitos a morte, e eu ficaria com um peso muito grande na consciência caso eles morressem. Na verdade, se qualquer um ali morresse, seria ruim o bastante, o bastante pra eu desejar ir junto também. Me lembrei da morte da Chiara, e senti um arrepio percorrendo minha coluna. "Cuidado com o que deseja", pensei e afirmei pra mim mesma.
A viagem foi muito quieta, o tempo inteiro. Estávamos cansados de tudo, mas não tanto para tirar nossa vontade de acabar com isso.
Quando chegamos, resolvemos limpar a casa antes de tudo, ela já tava cheia de sujeira.
Não era mentira que estávamos com vontade de dar um fim nessa história, mas o nosso cansaço era maior, e não tínhamos forças para continuar naquele mesmo dia. Então decidimos ir todos dormir, e no dia seguinte, continuar o jogo que colocava em risco qualquer espécie de vida naquele momento. Menos Pedro, que se recusou a dormir, alegando estar se sentindo "vivo".
Sendo assim, deitei na cama e fiquei fazendo inúteis tentativas para dormir, mas não consegui. Cogitei todas as possibilidades do que poderia acontecer no jogo, e acabei chorando, o que me deixou mais cansada. Até que uma coisa me chamou atenção: sussurros, vindo do térreo, da sala de estar. Desci silenciosamente, mas preferia ter ficado aonde estava. Depois de conversarmos tanto em grupo sobre isso, tinha que ter alguém que quebrasse as regras. Numa tentativa falhada de se salvar, Pedro iniciou o ciclo sozinho, no meio da noite.
Eu rapidamente fui ajudá-lo.
Pedro estava totalmente desesperado, estava bem visível na face dele.
Quando olhei pra baixo, vi os fragmentos do copo, as mãos dele estavam sangrando e as letras do tabuleiro estavam borradas e cobertas de sangue.
Lembrei-me rapidamente de que ele tinha uma queda por mim na infância, e ele sempre quis me impressionar tentando ser corajoso e valente, sem pensar duas vezes nos riscos e conseqüências que poderia acontecer.
Ele já estava chorando, e, gaguejando, me falou:
- Sa-sa-bri-na... me-me des-cul-pa...
- Está tudo bem, Pedro, se acalme e me diga o que aconteceu. - falei calmamente pra tentar confortá-lo.
- Eu despertei o espírito... Ele contou que precisava de uma alma tola para quebrar seu selo... Eu o fiz, e agora ele disse que tem a capacidade de se materializar no corpo de um monstro...
- Você só pode estar brincando, Pedro! - eu já estava começando a ficar irritada.
- Eu não queria Sabrina, eu queria nos salvar, principalmente te salvar!
- Ta certo, acreditarei na sua palavra...
O copo tava quebrado e ele estava todo ensanguentado, o perigo estava bem maior...
- Acho melhor a gente chamar todos. - eu disse, pensativa.
- Meu Deus, eles vão me matar, acabei colocando todos em risco mais uma vez! - disse Pedro soluçando.
- O pior que é verdade, me desculpe, mas não posso consolar você. - subi as escadas, batendo nas portas do quarto. Depois de um tempo, todos estavam de pé, exigindo uma explicação por acordá-los no meio da noite. Pedro me olhava, como se pedisse que eu o poupasse. Mas ele não merecia isso, não dessa vez.
- Seguinte, descobri o Pedro no meio da noite, ele iniciou o ciclo no meio da noite, sozinho, pra se salvar, e tentar me salvar. - fiz uma careta ao falar essa última parte.
- O QUÊ ? - gritou Cauê - Você não fez isso, não é Pedro?
- DESCULPA, DESCULPA! - gritou ele.
Alice abraçou o namorado tentando contê-lo.
- Meu Deus, agora tudo pode realmente acontecer! - alertou Bernardo.
- Mantenhamos a paciência, mesmo que alguns não mereçam... - Thiago lançou um olhar sugestivo a Pedro - Sentem-se todos, vamos nos juntar ao ciclo.
- Eu concordo com o Thiago. – apoiou o Eric – Vamos tentar procurar por uma solução.
- É meio difícil manter a calma aqui, Eric, sabendo que tem pessoas dispostas a nos trair! – reclamou Cauê aumentando seu tom de voz.
- Se controle! – falou Thiago com um tom mais alto que o dele – Acha que vamos conseguir alguma coisa assim? Já basta o espertão ter feito isso e nos irmos na onda. - ele completou ainda com um olhar de desprezo para Pedro.
- O que você vai fazer agora hein, Thiago? Só porque é o mais velho e se acha o mais maduro vai ficar se achando todo!? – falou Pedro, se levantando e se aproximando do Thiago, encarando-o.
- Se eu fosse você ficava no chão junto com a sua reputação. Sossega, pirralho! – Thiago disse em um tom de desprezo.
- E o que você vai fazer a respeito? Eu pelo menos tenho atitude de salvar os outros, não sou você que fica parado achando que faz muita coisa – Pedro estava desesperado, tava tentando silenciá-lo.
- E como você pode explicar a situação? Estamos salvos por acaso? Parece que não... – ele se segurava para não bater no Pedro.
- Porque você não tenta...
- Pedro, você já fez o bastante pra tentar se salvar e salvar a Sabrina, o melhor que pode fazer é ir pra casa. - Giovanna interrompeu Pedro, falando rapidamente para que ele não terminasse a frase.
- Quer saber? Eu farei isso mesmo, cansei de ficar aqui – respondeu se levantando e indo a direção do corredor que leva a porta.
Percebi que as paredes começaram a tremer, e uma coisa estranha aconteceu, as paredes se mexeram e esmagaram Pedro, e, em seguida, elas voltaram ao seu devido lugar. Ele estava morto, não tinha sobrado muita coisa do seu corpo.
Ficamos em silêncio, a culpa subiu a cabeça, mesmo ele tendo sido o cego de tentar me salvar, ele teve uma punição horrível que nem nós imaginávamos que fosse acontecer.
- Ah não... Parece que vamos parar que nem Pedro se continuarmos aqui, gente... Temos que fugir! - aconselhou Cauê, apavorado.
- Não dá, não dá! Temos que achar pistas! - exclamou Giovanna, soluçando.
- Pistas? - perguntei, confusa.
- Sim! Esse espírito vive nessa casa, certo? Essa casa aparenta ser abandonada, certo? Então essa casa tem alguma história! Só pode ser algo que ocorreu no passado, sei lá!
- Tem razão, Giovanna. - concordou Bernardo - Vamos nos separar para procurar pistas. Essa casa é enorme, então Thiago e Cauê subirão. Eu e Lara vamos procurar por aqui e Giovanna, Sabrina e Alice irão descer.
Descemos as escadas e fomos ao porão. Me surpreendi a ver que não era um porão qualquer, pelo contrário: era uma biblioteca enorme. Como estava abandonada, estava cheia de teias de aranha e mofos. As estantes eram altas e havia vários corredores. Conseguia enxergar os livros velhos, embora vistos de longe. Morcegos sobrevoavam o teto do porão, baratas se arrastavam pelo chão, mas conseguíamos caminhar, em busca de um livro que demonstre a verdade da história.
- Temos que achar o livro certo! - disse, desesperada.
Pegávamos qualquer livro que víamos pela frente. Ficamos muito tempo procurando e nunca achávamos.
- Não é esse... Nem esse... Não é o certo... - dizia Giovanna. Até que conseguiu achar uma espécie de diário. - "My Diary"... Parece que esse é o certo. Parece que é o livro do espírito!
- Sério? - disse Alice, esperançosa - Vamos lê-lo!
- Sim, mas fique segurando, Alice. Deixe-me ver se tem outro livro que possa ajudar em alguma coisa. - pediu Giovanna, dando o diário a Alice.
Eu sorri, aliviada. Havíamos encontrado um diário que o Bocó escrevia enquanto estava vivo. Mas então, vi um vulto passar, e parecia ir direto para Alice, que estava com o livro. Parecia ser ele, que não queria que algo precioso estivesse nas mãos de outros.
- GENTE! CUIDADO! UM VULTO! - gritei, alertando.
Giovanna não pensou duas vezes: empurrou rapidamente a Alice, que caiu e bateu sua cabeça em uma das estantes.
- Ai! - gemia, alisando sua mão direita no lugar onde bateu.
- Desculpa, Alice! Se levante rápido! - ordenou Giovanna.
Eu a ajudei a levantar e nós duas fomos sair do corredor, pois a estante estava cambaleando. Mas Giovanna ficou lá, não teve tempo de sair. A estante bateu em outra estante, que bateu em outra, formando um efeito dominó. Giovanna correu o mais rápido que pôde, mas se escorregou pisando num livro e caiu, fazendo com que a estante chegasse a tempo de lhe esmagar, matando-a.
Não tivemos tempo que nos despedir dela. Apenas chorávamos a morte de mais um amigo.
- E-ela m-morreu m-me s-s-s-salvando... - lamentada Alice.
- Eu s-sei disso, A-Alice... N-Não dá para t-t-t-tirá-la de lá. O e-espírito está te perseguindo...
Então, subimos as escadas, desesperadas. Mal sabíamos que o jogo estava apenas começando.
Em breve.
Obs: É recomendável ler antes o conto "O jogo do copo".
Durante poucas semanas depois da morte da Mônica e da Chiara, as coisas nunca mais foram as mesmas naquela casa. Sempre acordava no meio da noite, chorando, dizendo que sonhara várias vezes com o espírito que nos atormentava. Sem contar que sempre via Alice gritando, dizendo que viu espírito em sua frente. Sem contar que sempre via Thiago sóbrio, Pedro reclamando que o espírito nunca o deixava em paz, que sempre soprava seus ouvidos. E Bernardo sempre chorava, arrependido, e sempre gritava e exclamava que era o culpado de tudo, que o tal Bocó sempre dizia que ele era extremamente fraco e o culpado de todo o ocorrido.
Já era impossível prosseguir naquele estado. Por isso, decidimos voltar pra Salvador e nos juntar com nossos outros quatro amigos pra tomar uma decisão, pois estávamos abatidos e cansados pra decidir algo útil naquele momento. Após desembarcar no aeroporto, encontramos Cauê, Eric, Giovanna e Lara, nossos amigos, eu prefiro nem imaginar, como nós estávamos horríveis em tudo, pois o nosso sofrimento se refletia nas expressões deles, que tentaram ao máximo nos acolher. Nos reunimos na casa do Thiago, para chegarmos à conclusão da qual nos arrependemos.
- O melhor seria ficar, e tentar ignorar ao máximo, se voltarmos, tudo pode acontecer. Aquela casa deve ser assombrada, não sei como vocês aguentaram. - aconselhou Lara.
Desde que havia nos encontrado, ela não havia se separado um minuto do seu namorado Bernardo.
- Ficar e ser atormentado pela vida toda? Acho que não! - afirmou Bernardo, indignado.
- O melhor seria voltarmos, e tentar resolver essa situação, mesmo que possam acontecer coisas piores do que já aconteceu. - sugeriu Eric.
Ficamos conversando por um bom tempo tentando encontrar uma solução, até que fizemos a escolha errada de voltar para aquele lugar.
O desespero estava muito visível na cara de algumas pessoas, Alice por exemplo, estava tremendo muito, até que seu namorado, Cauê, começou a segurar sua mão e falou pra ela:
- Não fique com medo Alice, vai ficar tudo bem, confie em mim.
Percebi que ela estava se sentindo confortada com suas palavras, mas ela ainda estava trêmula, uma coisa ruim estava para acontecer.
Logo no dia seguinte, pegamos um vôo para a Amazônia, eu realmente não queria que Giovanna, Cauê, Lara e Eric fossem conosco, pois eles estavam sujeitos a morte, e eu ficaria com um peso muito grande na consciência caso eles morressem. Na verdade, se qualquer um ali morresse, seria ruim o bastante, o bastante pra eu desejar ir junto também. Me lembrei da morte da Chiara, e senti um arrepio percorrendo minha coluna. "Cuidado com o que deseja", pensei e afirmei pra mim mesma.
A viagem foi muito quieta, o tempo inteiro. Estávamos cansados de tudo, mas não tanto para tirar nossa vontade de acabar com isso.
Quando chegamos, resolvemos limpar a casa antes de tudo, ela já tava cheia de sujeira.
Não era mentira que estávamos com vontade de dar um fim nessa história, mas o nosso cansaço era maior, e não tínhamos forças para continuar naquele mesmo dia. Então decidimos ir todos dormir, e no dia seguinte, continuar o jogo que colocava em risco qualquer espécie de vida naquele momento. Menos Pedro, que se recusou a dormir, alegando estar se sentindo "vivo".
Sendo assim, deitei na cama e fiquei fazendo inúteis tentativas para dormir, mas não consegui. Cogitei todas as possibilidades do que poderia acontecer no jogo, e acabei chorando, o que me deixou mais cansada. Até que uma coisa me chamou atenção: sussurros, vindo do térreo, da sala de estar. Desci silenciosamente, mas preferia ter ficado aonde estava. Depois de conversarmos tanto em grupo sobre isso, tinha que ter alguém que quebrasse as regras. Numa tentativa falhada de se salvar, Pedro iniciou o ciclo sozinho, no meio da noite.
Eu rapidamente fui ajudá-lo.
Pedro estava totalmente desesperado, estava bem visível na face dele.
Quando olhei pra baixo, vi os fragmentos do copo, as mãos dele estavam sangrando e as letras do tabuleiro estavam borradas e cobertas de sangue.
Lembrei-me rapidamente de que ele tinha uma queda por mim na infância, e ele sempre quis me impressionar tentando ser corajoso e valente, sem pensar duas vezes nos riscos e conseqüências que poderia acontecer.
Ele já estava chorando, e, gaguejando, me falou:
- Sa-sa-bri-na... me-me des-cul-pa...
- Está tudo bem, Pedro, se acalme e me diga o que aconteceu. - falei calmamente pra tentar confortá-lo.
- Eu despertei o espírito... Ele contou que precisava de uma alma tola para quebrar seu selo... Eu o fiz, e agora ele disse que tem a capacidade de se materializar no corpo de um monstro...
- Você só pode estar brincando, Pedro! - eu já estava começando a ficar irritada.
- Eu não queria Sabrina, eu queria nos salvar, principalmente te salvar!
- Ta certo, acreditarei na sua palavra...
O copo tava quebrado e ele estava todo ensanguentado, o perigo estava bem maior...
- Acho melhor a gente chamar todos. - eu disse, pensativa.
- Meu Deus, eles vão me matar, acabei colocando todos em risco mais uma vez! - disse Pedro soluçando.
- O pior que é verdade, me desculpe, mas não posso consolar você. - subi as escadas, batendo nas portas do quarto. Depois de um tempo, todos estavam de pé, exigindo uma explicação por acordá-los no meio da noite. Pedro me olhava, como se pedisse que eu o poupasse. Mas ele não merecia isso, não dessa vez.
- Seguinte, descobri o Pedro no meio da noite, ele iniciou o ciclo no meio da noite, sozinho, pra se salvar, e tentar me salvar. - fiz uma careta ao falar essa última parte.
- O QUÊ ? - gritou Cauê - Você não fez isso, não é Pedro?
- DESCULPA, DESCULPA! - gritou ele.
Alice abraçou o namorado tentando contê-lo.
- Meu Deus, agora tudo pode realmente acontecer! - alertou Bernardo.
- Mantenhamos a paciência, mesmo que alguns não mereçam... - Thiago lançou um olhar sugestivo a Pedro - Sentem-se todos, vamos nos juntar ao ciclo.
- Eu concordo com o Thiago. – apoiou o Eric – Vamos tentar procurar por uma solução.
- É meio difícil manter a calma aqui, Eric, sabendo que tem pessoas dispostas a nos trair! – reclamou Cauê aumentando seu tom de voz.
- Se controle! – falou Thiago com um tom mais alto que o dele – Acha que vamos conseguir alguma coisa assim? Já basta o espertão ter feito isso e nos irmos na onda. - ele completou ainda com um olhar de desprezo para Pedro.
- O que você vai fazer agora hein, Thiago? Só porque é o mais velho e se acha o mais maduro vai ficar se achando todo!? – falou Pedro, se levantando e se aproximando do Thiago, encarando-o.
- Se eu fosse você ficava no chão junto com a sua reputação. Sossega, pirralho! – Thiago disse em um tom de desprezo.
- E o que você vai fazer a respeito? Eu pelo menos tenho atitude de salvar os outros, não sou você que fica parado achando que faz muita coisa – Pedro estava desesperado, tava tentando silenciá-lo.
- E como você pode explicar a situação? Estamos salvos por acaso? Parece que não... – ele se segurava para não bater no Pedro.
- Porque você não tenta...
- Pedro, você já fez o bastante pra tentar se salvar e salvar a Sabrina, o melhor que pode fazer é ir pra casa. - Giovanna interrompeu Pedro, falando rapidamente para que ele não terminasse a frase.
- Quer saber? Eu farei isso mesmo, cansei de ficar aqui – respondeu se levantando e indo a direção do corredor que leva a porta.
Percebi que as paredes começaram a tremer, e uma coisa estranha aconteceu, as paredes se mexeram e esmagaram Pedro, e, em seguida, elas voltaram ao seu devido lugar. Ele estava morto, não tinha sobrado muita coisa do seu corpo.
Ficamos em silêncio, a culpa subiu a cabeça, mesmo ele tendo sido o cego de tentar me salvar, ele teve uma punição horrível que nem nós imaginávamos que fosse acontecer.
- Ah não... Parece que vamos parar que nem Pedro se continuarmos aqui, gente... Temos que fugir! - aconselhou Cauê, apavorado.
- Não dá, não dá! Temos que achar pistas! - exclamou Giovanna, soluçando.
- Pistas? - perguntei, confusa.
- Sim! Esse espírito vive nessa casa, certo? Essa casa aparenta ser abandonada, certo? Então essa casa tem alguma história! Só pode ser algo que ocorreu no passado, sei lá!
- Tem razão, Giovanna. - concordou Bernardo - Vamos nos separar para procurar pistas. Essa casa é enorme, então Thiago e Cauê subirão. Eu e Lara vamos procurar por aqui e Giovanna, Sabrina e Alice irão descer.
Descemos as escadas e fomos ao porão. Me surpreendi a ver que não era um porão qualquer, pelo contrário: era uma biblioteca enorme. Como estava abandonada, estava cheia de teias de aranha e mofos. As estantes eram altas e havia vários corredores. Conseguia enxergar os livros velhos, embora vistos de longe. Morcegos sobrevoavam o teto do porão, baratas se arrastavam pelo chão, mas conseguíamos caminhar, em busca de um livro que demonstre a verdade da história.
- Temos que achar o livro certo! - disse, desesperada.
Pegávamos qualquer livro que víamos pela frente. Ficamos muito tempo procurando e nunca achávamos.
- Não é esse... Nem esse... Não é o certo... - dizia Giovanna. Até que conseguiu achar uma espécie de diário. - "My Diary"... Parece que esse é o certo. Parece que é o livro do espírito!
- Sério? - disse Alice, esperançosa - Vamos lê-lo!
- Sim, mas fique segurando, Alice. Deixe-me ver se tem outro livro que possa ajudar em alguma coisa. - pediu Giovanna, dando o diário a Alice.
Eu sorri, aliviada. Havíamos encontrado um diário que o Bocó escrevia enquanto estava vivo. Mas então, vi um vulto passar, e parecia ir direto para Alice, que estava com o livro. Parecia ser ele, que não queria que algo precioso estivesse nas mãos de outros.
- GENTE! CUIDADO! UM VULTO! - gritei, alertando.
Giovanna não pensou duas vezes: empurrou rapidamente a Alice, que caiu e bateu sua cabeça em uma das estantes.
- Ai! - gemia, alisando sua mão direita no lugar onde bateu.
- Desculpa, Alice! Se levante rápido! - ordenou Giovanna.
Eu a ajudei a levantar e nós duas fomos sair do corredor, pois a estante estava cambaleando. Mas Giovanna ficou lá, não teve tempo de sair. A estante bateu em outra estante, que bateu em outra, formando um efeito dominó. Giovanna correu o mais rápido que pôde, mas se escorregou pisando num livro e caiu, fazendo com que a estante chegasse a tempo de lhe esmagar, matando-a.
Não tivemos tempo que nos despedir dela. Apenas chorávamos a morte de mais um amigo.
- E-ela m-morreu m-me s-s-s-salvando... - lamentada Alice.
- Eu s-sei disso, A-Alice... N-Não dá para t-t-t-tirá-la de lá. O e-espírito está te perseguindo...
Então, subimos as escadas, desesperadas. Mal sabíamos que o jogo estava apenas começando.
Em breve.
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