Desde quando você se foi
(Laís Moura)
Era outono, e a cada 5 metros eu encontrava montinhos de folhas de árvores pelo parque central. O forte cheiro de eucalipto esfriava minha mente, e desse jeito, conseguiria me lembrar do ocorrido com mais detalhes. Afinal, não é sempre que eu fico disposta em acordar as 5:30 da manhã. Já tinha tentado de tudo: ir ao local do ocorrido, enfiar minha cabeça numa vasilha com gelo, e essa seria minha última tentativa.
Thaís. Porquê teve de ir tão cedo?
No MP4 dela, tocava a música do Fresno, "Desde quando em que você se foi".
Jurei a mim mesma que as lágrimas nunca mais caíriam, afinal, quem é que chora por uma prima que se mudou para longe e que você não fala a mais de 7 anos? Eu até hoje nunca entendi direito o motivo de tanta tristeza. Thaís foi minha melhor amiga na minha infância, mas desde que completei meus 12 anos, não nos falamos mais.Ano passado, ela se mudou para a Europa, e quando eu acordei, tinha um bilhete escrito '' se cuida " e o MP4 do lado.
É, mas como minha amiga costuma dizer, a vida as vezes puxa o nosso tapete.
Corria com mais velocidade, a medida que me adentrava na floresta. Ao fundo, uma música de Legião Urbana, não sei qual. Nunca fui muito ligada a MPB, apesar de me identificar com a maior parte das músicas dessa classificação.
A mochila pesava em meus ombros, e pássaros se comunicavam assustados. Um cachorro saiu correndo na direção contrária em que eu estava, e pombos voavam aos montes. Na mesma direção.
As pessoas que estavam no parque ignoraram a manifestação, mas meu instinto dizia para eu correr. E rápido.
O vento arrastava com força as folhas na direção sul,e senti uma vontade enorme de vomitar.
Segui o vento.
As pessoas me observavam estranhas, mas eu corria o mais rápido possível, acompanhando o cachorro. Logo acima, os pássaros berravam e sobrevoavam minha cabeça, e ouvi os ganidos dos cachorros dométicos. Marcavam cinco e meia da manhã no relógio, e as pessoas começaram a prestar atenção no nosso movimento. A medida que corria, percebi que me afastava cada vez mais do mar.
Bom, era impossível ser uma tsunami, pois fenômenos assim só aconteciam em países distantes, e aqui no Brasil isso nunca aconteceu. Então, o que seria?
Minhas pernas pesavam um chumbo, e depois de uns 10 minutos correndo, vi duas meninas, loiras e mais brancas que a minha pele, correndo ao meu lado.
- Do you speak inglesh? (Você fala inglês?)
Eu, como sempre, era um imã de americanos.
- Yeah (sim) - Respondi.
- look to the sea!! (olhe para o mar!!)
Obedeci.
O mar recuou cerca de 50 metros, e a onda começou a se formar.
- You need say to the people! They'll die!!! ( Você precisa dizer para as pessoas! elas vão morrer!)
- TSUNAMIIIIIIIIIIIII! - berrei enquanto corria.
Não deu nem 3 minutos e milhares de pessoas começaram a acompanhar a gente.
Depois de 20 minutos correndo, eu e as americanas escalamos a grade de um prédio enorme, subimos as escadas e chegamos ao último andar.Arrombamos a porta de um apartamento, e observamos. Quando a onda chegou no seu auge, elas me abraçaram, fechando meus olhos. Estávamos bem longe do mar, tanto que nem conseguimos vê-lo, mas a onda chegou em nós, e quando se acalmou, a água batia nos nossos joelhos.
- Don't see that. (Não veja isso). - Me aconselharam.
- Stay here. Next. ( Fique aqui. Próxima) - Disseram elas, esvaziando a água do apartamento. Aí me lembrei que geralmente sempre vem uma próxima onda.
Dito e Feito. 10 minutos depois, veio mais uma, mas a água não chegou no nosso prédio.
- It's o.k. Relax. (Tudo bem, relaxe).
Saímos de lá às 7:00 da noite. Nadamos em meio aos corpos,até que a água cessou e eu pude ir a pé normalmente. Quando subi a ladeira da minha casa, o mesmo cachorro que passou por mim descansava na frente da minha casa. Desabei e chorando, vomitei horrores.
Lá de cima, vi milhares de almas apavoradas sobrevoando o céu nublado.
Era outono, e a cada 5 metros eu encontrava montinhos de folhas de árvores pelo parque central. O forte cheiro de eucalipto esfriava minha mente, e desse jeito, conseguiria me lembrar do ocorrido com mais detalhes. Afinal, não é sempre que eu fico disposta em acordar as 5:30 da manhã. Já tinha tentado de tudo: ir ao local do ocorrido, enfiar minha cabeça numa vasilha com gelo, e essa seria minha última tentativa.
Thaís. Porquê teve de ir tão cedo?
No MP4 dela, tocava a música do Fresno, "Desde quando em que você se foi".
Jurei a mim mesma que as lágrimas nunca mais caíriam, afinal, quem é que chora por uma prima que se mudou para longe e que você não fala a mais de 7 anos? Eu até hoje nunca entendi direito o motivo de tanta tristeza. Thaís foi minha melhor amiga na minha infância, mas desde que completei meus 12 anos, não nos falamos mais.Ano passado, ela se mudou para a Europa, e quando eu acordei, tinha um bilhete escrito '' se cuida " e o MP4 do lado.
É, mas como minha amiga costuma dizer, a vida as vezes puxa o nosso tapete.
Corria com mais velocidade, a medida que me adentrava na floresta. Ao fundo, uma música de Legião Urbana, não sei qual. Nunca fui muito ligada a MPB, apesar de me identificar com a maior parte das músicas dessa classificação.
A mochila pesava em meus ombros, e pássaros se comunicavam assustados. Um cachorro saiu correndo na direção contrária em que eu estava, e pombos voavam aos montes. Na mesma direção.
As pessoas que estavam no parque ignoraram a manifestação, mas meu instinto dizia para eu correr. E rápido.
O vento arrastava com força as folhas na direção sul,e senti uma vontade enorme de vomitar.
Segui o vento.
As pessoas me observavam estranhas, mas eu corria o mais rápido possível, acompanhando o cachorro. Logo acima, os pássaros berravam e sobrevoavam minha cabeça, e ouvi os ganidos dos cachorros dométicos. Marcavam cinco e meia da manhã no relógio, e as pessoas começaram a prestar atenção no nosso movimento. A medida que corria, percebi que me afastava cada vez mais do mar.
Bom, era impossível ser uma tsunami, pois fenômenos assim só aconteciam em países distantes, e aqui no Brasil isso nunca aconteceu. Então, o que seria?
Minhas pernas pesavam um chumbo, e depois de uns 10 minutos correndo, vi duas meninas, loiras e mais brancas que a minha pele, correndo ao meu lado.
- Do you speak inglesh? (Você fala inglês?)
Eu, como sempre, era um imã de americanos.
- Yeah (sim) - Respondi.
- look to the sea!! (olhe para o mar!!)
Obedeci.
O mar recuou cerca de 50 metros, e a onda começou a se formar.
- You need say to the people! They'll die!!! ( Você precisa dizer para as pessoas! elas vão morrer!)
- TSUNAMIIIIIIIIIIIII! - berrei enquanto corria.
Não deu nem 3 minutos e milhares de pessoas começaram a acompanhar a gente.
Depois de 20 minutos correndo, eu e as americanas escalamos a grade de um prédio enorme, subimos as escadas e chegamos ao último andar.Arrombamos a porta de um apartamento, e observamos. Quando a onda chegou no seu auge, elas me abraçaram, fechando meus olhos. Estávamos bem longe do mar, tanto que nem conseguimos vê-lo, mas a onda chegou em nós, e quando se acalmou, a água batia nos nossos joelhos.
- Don't see that. (Não veja isso). - Me aconselharam.
- Stay here. Next. ( Fique aqui. Próxima) - Disseram elas, esvaziando a água do apartamento. Aí me lembrei que geralmente sempre vem uma próxima onda.
Dito e Feito. 10 minutos depois, veio mais uma, mas a água não chegou no nosso prédio.
- It's o.k. Relax. (Tudo bem, relaxe).
Saímos de lá às 7:00 da noite. Nadamos em meio aos corpos,até que a água cessou e eu pude ir a pé normalmente. Quando subi a ladeira da minha casa, o mesmo cachorro que passou por mim descansava na frente da minha casa. Desabei e chorando, vomitei horrores.
Lá de cima, vi milhares de almas apavoradas sobrevoando o céu nublado.
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