Silêncio da verdade

(Bárbara Suzart e Laís Moura)

Rosana tinha um cabelo loiro e olhos claros, como a maioria das gaúchas. Ela era inteligente e aonde ia tinha amigos atrás. Não falava muito, mas fazia os outros rirem, e sempre tratava todos com igualdade.
Mas ela tinha certos problemas psicológicos.
A cada dia ela me vinha com uma história de gritos e escândalos. Cada história mais escandalosa que a outra. Os motivos eram simples, mas o show era terrível, de acordo com que ela falava. Um dia ela desmaiou, e alguns outros ela ficou em estado de transe.
A mãe disse à escola que ela era assim desde pequena, e que estava fazendo tratamento psicológico. Disse ainda que a filha quase não falava, e que estava vendo uma grande mudança, apesar de tudo.
Porém, era frequente as vezes que ela batia à minha porta.
Era julho quando eu ouvi gritos vindos da sala de Rosana. Corri para lá e vi Rosana sentada no chão com os braços em volta das pernas, em transe. Ao seu lado estava um de seus colegas de classe, jogado no chão e com a mão segurando a outra.
- O que aconteceu?
- Ele passou a mão na bunda dela e ela bateu nele, empurrando com toda a força no chão. Ele caiu em cima da mão dele. - Me disse uma aluna.
O menino foi para a enfermaria, e Rosana para a minha sala, como sempre.
- Olha Rosana, eu sei que a atitude dele foi totalmente errada,mas...
- Irei te contar o que você precisa saber.
Silêncio.
- Eu tenho um segredo, que só a minha família sabe. Pedi para meus pais não contarem quando fui transferida para cá, mas acho que é importante a pedagogia do colégio saber.
Silêncio.
- Conto com seu sigilio profissional.
- Pode e deve contar. - Afirmei.
- Fui molestada aos 12 anos.
Silêncio.
- Eu estava indo para o supermercado de noite, minha mãe sempre me disse para ir pela tarde, mas é que eu gosto de olhar as estrelas enquanto eu ando...
- Ahan...
- Foi na volta do supermercado que aconteceu. Fico agressiva por que vejo características do cretino em quase todos os meninos, principalmente no Marco.
Marco era o menino que ela jogou no chão.
- Características?
- Eu o matei.
Engoli em seco.
- Enquanto ele me batia, alcancei o canivete que eu tinha ganhado de presente alguns dias antes, e que eu tinha esquecido no meu bolso.
- E o que aconteceu depois?
- Cravei o canivete no máximo de lugares possíveis no pescoço e na cabeça dele. Não demorou muito para ele morrer.
Ela apertava com força o quartzo que tinha pendurado no pescoço.
- O que aconteceu depois que ele morreu?
- Bom, algumas testemunhas ligaram para a polícia. Fui à julgamento e ficou claro que eu não tive culpa. Mas eu tive a intenção, apesar de tudo. E fico insegura com medo que possa acontecer de novo.
- Ser molestada?
- Não. Matar. Uma vez que você prova do gosto, você imagina sempre o bolo na sua frente. Principalmente quando você está com fome.
Silêncio.
- Você já quis matar alguém?
- Todos nós queremos, admita.
Silêncio.
- Bom, outra advertência?
- Vou conversar com a coordenadora antes. Pode ir, depois eu te chamo.
Ela engoliu em seco, mas deu um sorriso aberto.
- Como queira.
E foi embora como se nada tivesse acontecido.

Comentários

Adler Azevedo disse…
muito bom...
depois me contem o segredo de escreve-las tão bem...

visitem
http://falcatruasonline-2.blogspot.com/
Rodrigo Vellame disse…
Nossa...
tive medo...
por isso q eu ñ confio mt nos gaúchos...
hauhauahaahau
só tem um erro de escrita: "juramento" seria "julgamento"

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