Sumiço

(Laís Moura e Bárbara Suzart)

Finalmente Laís conseguiu me convencer a descer para ensaiarmos a coreografia de final de ano. Olhei a quadra antes de descermos - para ver se tinha gente - e senti seu olhar me fuzilar.
- ANDA, Bárbara, para de ENROLAR!
- Já vai, já vai! Não tem ninguém na quadra, mas se chegar gente, a gente sobe, beleza?
- Ai Meu Deus... Tá, agora vamos logo!
Então eu cheguei ao quarto de Débora, minha irmã, e falei para quando a mãe de Laís chegar, ela ligar para meu celular.
Então descemos para quadra. Estava só uma mãe brincando com suas duas filhas pequenas no parque, que fica do lado da quadra. Começamos a ensaiar.
Passou uns 10 minutos e começou a chover. Como a quadra não tinha cobertura, Laís sugeriu o playground, já que tinha uma parte coberta.
- Ah não, Laís. Lá tá cheio de crianças correndo e brincando! Vão nos atrapalhar.
- Sim, então diga outro lugar para ensaiarmos, então!
Subi as escadas, chegamos numa garagem.
- Tcharam! A garagem tem cobertura, não passa muita gente...
- Mas passa carro - ela disse, com uma cara de tédio.
- Mas nesse lugar aqui, onde nós estamos, não tem carro para estacionar - disse, com um sorriso confiante e bem largo.
- Então, tá bom.
Continuamos nosso ensaio, até que ela parou e disse:
- Agora que lenhou tudo. Nessa parte, vamos ter que se jogar no chão. E esse chão tem micróbios, passa barata, pode até passar ratos...
- Então tive uma ideia! - eu disse, confiante do meu pensamento.
Andamos e chegamos ao elevador de serviço da garagem. O lugar em frente da porta do elevador tinha um tamanho suficiente para ensaiarmos.
- Aqui não passa insetos, bichos, enfim.
- O.k., vamos.
Estávamos ensaiando quando o meu celular começou a tocar. Olhei para ver quem era.
- É minha mãe. Vou retornar.
Ela não atendeu, acabou indo para caixa de entrada. Então voltamos a ensaiar. Ensaiamos boa parte da dança, até que cansamos e decidimos subir para meu apartamento.
Chegando lá, saímos do elevador e vimos que a porta da minha casa estava aberta, e a mãe de Laís estava lá.
- Onde vocês estavam?!
Minha mãe andou até nós, preocupada, e gritou:
- VOCÊS QUASE NOS MATAM DO CORAÇÃO! Onde vocês estavam?!
- Lá embaixo, ora - disse Laís, com um ar de tranquilidade.
- Lá embaixo aonde? - perguntou a mãe de Laís.
- Na garagem... - disse.
Nossas mães, de brancas, estavam ROSAS. Laís travou. Ficamos umas meia hora, eu e Laís na porta de casa, e nossas mães dentro de casa, conversando. Melhor, BRIGANDO até. Explicamos a história de que falei para Débora para qualquer coisa me ligar.
- Ela está na terapia, estou até indo buscar ela agora, por isso não ligou. E eu te liguei milhões de vezes! - disse minha mãe.
- Eu vi, até retornei uma, mas você não atendeu - falei.
- Tsc... Vamos, Laís. Tenho que buscar Mariana no ballet - falou a mãe de Laís.
Então elas foram e fecharam a porta. Consegui ouvir um pouco da conversa delas enquanto esperavam o elevador.
Eu dei risada.
E pelo menos sobrevivi para contar a história.


Baseado em fatos reais.