Morrendo afogadas

(Bárbara Suzart e Laís Moura)

O céu anunciava o entardecer, quando fomos para uma praia num dia de domingo.

Era sábado, Bárbara.
Que seja. Estávamos indo com uma amiga da mãe de Laís, que por sinal, morria de medo de mar - só entrava com a água na altura dos tornozelos.
Bem,a praia não tinha quase ninguém, e por isso, conseguimos mesa facilmente.A maré estava alta, mas mesmo assim entramos - nada que não fosse anormal, pelo fato de irmos a praia desde os dois anos de idade.
" Não entrem muito no fundo - aconselhou a amiga de minha mãe."

Pois foi o que fizemos. Estávamos lá todas felizes, quando caímos num buraco, onde o mar chegou no nosso pescoço. Aí a coisa engrossa.
Eu não conseguia tocar meus pés no chão. Eu me debatia, mas sempre chegava uma onda para me afogar.
Pois é, e nós só tínhamos uma coisa na cabeça: bater as pernas e de boca fechada, afinal, cheia de água salgada no estômago só piorava ainda mais a situação.

Graças a Deus sabemos nadar, se não não estaríamos aqui hoje.
É, a correnteza ainda por cima ficou mais forte naquela hora, e a gente só tinha 7 anos na época...

Bom, eu me desesperei, não estava conseguindo sair do lugar e as ondas me engoliam, e eu comecei a me lembrar dos momentos felizes - e tristes - que passei pela minha vida... eu sabia que ia morrer.
Aí você já tá exagerando, Bárbara. Aonde que eu ia ficar me lembrando da minha vida! Só tinha na minha mente uma coisa: salvar Bárbara antes de tudo. Só pensava nisso: "se concentre, lute, nade, não deixe ela morrer, nade, nade, não engula água...TENTE!" Foi o que eu pensei, apesar de só ter 7 anos.

A medida que uma avançava, puxava a outra. Nunca deixamos uma de nós para trás, por mais que no final das contas não avançássemos nada. Mas, por quê estávamos demorando tanto? Merecíamos morrer assim? Cadê a amiga da mãe de Laís, numa hora dessas?!
Pois nem nela eu pensei. Quer dizer, tinha sido um milagre minha mãe ter deixado eu ir para a praia sem ela, e ainda por cima acontecer uma coisa dessas?!

Então, devíamos ter ficado uns 30 minutos lá, e eu não estava aguentando mais bater os braços, engolir água - que já estava sendo inevitável - e tentar sobreviver. Eu já estava quase apagando.
Eu preferia nem pensar no meu cansaço. A adrenalina não me permitia parar, e a ideia de viver com Bárbara morta era terrível. Dei uma de Michael Phelps e nadei sem parar.

Nossa. MICHAEL PHELPS.
Pô, considerando o fato de que eu tinha 7 anos...

Sim, Laís. Prossiga.
Então. Já estava quase apagando quando algo me tirou de lá. Só sei que eu apaguei durante uns 5 segundos, pois essa parte me falha a memória. Só sei que devo ter apagado pois minha consciência voltou ainda nos braços do cara, andando em direção a nossa mesa. Olhei meio bêbada pro lado e lá estava Bárbara apagada. Nos braços de um dos caras.
Caramba, não me pergunte a fisionomia deles, que eu não saberei te responder.

Pois é, eu só fui acordar uns 30 minutos depois. Quando a gente já tava indo embora. Você se lembra da cara da amiga de sua mãe?
A Rita?

Ela mesma.
Não...

Ela parecia que tinha saído de um enterro.
Disso eu não me lembro, só sei que os caras que nos salvaram eram aqueles carinhas que vendem queijinho, tanto que me deram um de graça! Há, você perdeu, ninguém manda dormir!

Como se eu tivesse dormindo... antes fosse.
Estava uma DELÍCIA!

É, não precisa repetir, você já esfregou isso na minha cara pelo menos umas 10 vezes.

Baseado em fatos reais.

Comentários

Postagens mais visitadas