Tempo Perdido
(Laís Moura)
- Três horas? - Perguntei, indignada.
Eu estava numa sala antiga, cheirando a mofo. O estilo grego-romano fazia-me sentir estar em um museu. O piso marrom estava um pouco arranhado, e as cortinas(vermelhas,grossas e de veludo) deixavam uma luz morna entrar pela janela. Uma pintura estava coberta de poeira, e eu não consegui identificar o conteúdo. Móveis, não havia. Eu, encostada na parede, esperava ansiosamente por algum acontecimento - do qual não me lembro.
Tinha como companhia uma francesa e um inglês, que beiravam a minha idade. A francesa tinha um português fluente, e as poucas coisas que o inglês dizia eu entendia - ou pelo menos, pensava que entendia.
Eu conhecia-os há muito tempo, mas durante muitos anos fiquei sem vê-los, o que tornava o ambiente muito mais cabuloso. A francesa era comunicativa - não demorou muito para ficarmos amigas - já o outro tinha um olhar gentil e humilde, mas era uma pessoa de poucas palavras. Pelo menos naquele momento.
No silêncio inquieto, observava o inglês com tédio. Ao longe, ouvi um grito de gaivota.
- Relaxe - disse ele - Passa rápido.
Revirei os olhos, afinal, só tinha se passado 5 minutos.
- Ei,venham ver! - chamou a francesa - Aqui!
Atravessamos um corredor escuro, em que o teto era três vezes mais alto que os tradicionais. Viramos a primeira direita, entrando num quarto.
Lá estavam uma cama sem colchão, um guarda-roupa vazio e sem portas e ela pendurada na janela.
Nos aproximamos. A luz que saía da janela se intensificou ao ponto de me cegar, e eu perguntei:
- O que vocês estão vendo?
Silêncio.
- Eu não consigo ver nada! - exclamei desesperadamente.
Silêncio.
- Gente?
Silêncio.
Tentei em vão olhar para os seus rostos, mas a luz não me deixava ver um palmo na minha frente.
- Vocês estão me entendendo?! - perguntei, frustando-me.
Acabei desistindo e fui para a sala, com ele atrás. Me sentei no mesmo lugar em que estava e abracei minhas pernas.
- Vocês não me entendem mais, não é?
Daí ele disse algo como resposta, mas eu não entendi nada. Ele sorriu, ao ver minha expressão confusa.
Ouvi um som de água batendo em uma superfície.
- Precisamos fazer alguma coisa - Disse uma voz que não era nem do inglês, nem da francesa.
Era da minha mãe.
Meu pai pegou um pano de chão e deu uma última torcida no balde. Foi embora, fechando a porta do meu quarto. Foi aí que caiu a ficha que eu tinha acordado.
Estremeci, ao pisar no chão frio e molhado. Abri a porta do banheiro com raiva e entrei, me preparando para mais um dia entediante: um dia escolar.
Seria maravilhoso ficar mais um tempinho com o inglês, vendo a luz iluminar seus belos olhos verdes naquela sala empoeirada.
Bocejei e abri a torneira, deixando a água quente retirar meu mau humor. Sem sucesso.
Baseado em fatos reais.
- Três horas? - Perguntei, indignada.
Eu estava numa sala antiga, cheirando a mofo. O estilo grego-romano fazia-me sentir estar em um museu. O piso marrom estava um pouco arranhado, e as cortinas(vermelhas,grossas e de veludo) deixavam uma luz morna entrar pela janela. Uma pintura estava coberta de poeira, e eu não consegui identificar o conteúdo. Móveis, não havia. Eu, encostada na parede, esperava ansiosamente por algum acontecimento - do qual não me lembro.
Tinha como companhia uma francesa e um inglês, que beiravam a minha idade. A francesa tinha um português fluente, e as poucas coisas que o inglês dizia eu entendia - ou pelo menos, pensava que entendia.
Eu conhecia-os há muito tempo, mas durante muitos anos fiquei sem vê-los, o que tornava o ambiente muito mais cabuloso. A francesa era comunicativa - não demorou muito para ficarmos amigas - já o outro tinha um olhar gentil e humilde, mas era uma pessoa de poucas palavras. Pelo menos naquele momento.
No silêncio inquieto, observava o inglês com tédio. Ao longe, ouvi um grito de gaivota.
- Relaxe - disse ele - Passa rápido.
Revirei os olhos, afinal, só tinha se passado 5 minutos.
- Ei,venham ver! - chamou a francesa - Aqui!
Atravessamos um corredor escuro, em que o teto era três vezes mais alto que os tradicionais. Viramos a primeira direita, entrando num quarto.
Lá estavam uma cama sem colchão, um guarda-roupa vazio e sem portas e ela pendurada na janela.
Nos aproximamos. A luz que saía da janela se intensificou ao ponto de me cegar, e eu perguntei:
- O que vocês estão vendo?
Silêncio.
- Eu não consigo ver nada! - exclamei desesperadamente.
Silêncio.
- Gente?
Silêncio.
Tentei em vão olhar para os seus rostos, mas a luz não me deixava ver um palmo na minha frente.
- Vocês estão me entendendo?! - perguntei, frustando-me.
Acabei desistindo e fui para a sala, com ele atrás. Me sentei no mesmo lugar em que estava e abracei minhas pernas.
- Vocês não me entendem mais, não é?
Daí ele disse algo como resposta, mas eu não entendi nada. Ele sorriu, ao ver minha expressão confusa.
Ouvi um som de água batendo em uma superfície.
- Precisamos fazer alguma coisa - Disse uma voz que não era nem do inglês, nem da francesa.
Era da minha mãe.
Meu pai pegou um pano de chão e deu uma última torcida no balde. Foi embora, fechando a porta do meu quarto. Foi aí que caiu a ficha que eu tinha acordado.
Estremeci, ao pisar no chão frio e molhado. Abri a porta do banheiro com raiva e entrei, me preparando para mais um dia entediante: um dia escolar.
Seria maravilhoso ficar mais um tempinho com o inglês, vendo a luz iluminar seus belos olhos verdes naquela sala empoeirada.
Bocejei e abri a torneira, deixando a água quente retirar meu mau humor. Sem sucesso.
Baseado em fatos reais.
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