Este mundo que vivemos

(Laís Moura)

- Moça, por favor traga-me um pouco de paz.

Lá vem a moça, mal olhando-me, com uma bandeija na mão.
Depois do que me parece horas.

- Foi o senhor que me pediu paz, correto?
Respondo com a cabeça.
Ela joga na minha frente uma lasanha pegando fogo.

Ora, mas vejam.
Como pode paz pegar fogo?

- Moça, acho que houve um engano. Não se come paz quente.

De nada adiantou.
Ali, e em qualquer outro restaurante, a paz só vinha fervendo, garantiu-me a jovem.

Paguei, sai e não comi. Se eu quisesse coisa quente poderia ter pedido até a sorte - pois vejam, se sorte fosse fria ela ficava para sempre, e não sairia assim pulando de um lado para o outro.

Paz não.
Se você tem, você tem.

Contrariado, fui numa sorveteria.
- Um pouco de paz, por favor.
- Desculpe, senhor. Está em falta. Verão, sabe como é...

Sabe como é o quê?
Existe falta de uma coisa que não se vai?

Quando o sol se pôs naquela tarde e voltei para casa,
Meus vidrinhos de paz estavam desaparecidos.
Conclui em meu desespero que não tinha mais nenhuma paz,
Nem fria nem morna nem congelada
E, para ver se esquecia,
Adormeci.
Pra sempre.

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