Desespero

(Laís Moura)

Suando. A areia queimava meus pés, mas certamente era melhor do que andar com saltos. Estávamos perdidos, e iríamos morrer sem dúvida e desidratação. Uma morte lenta, seca.
 Uma morte cega.
 Ao meu lado, dois homens: Um em torno dos 40, outro em torno dos 25 anos. Machucados no rosto, nas costas, nas pernas. Eu estava bem, mas sentia-me fraca e dolorida. Sangue escorria entre minhas pernas, e não era sangue de menstruação.
 Sim, já estava óbvio: Tiraram minha virgindade.
 Mas vamos pelo início.

 Eu trabalhava numa revista, escrevendo crônicas. A revista era a melhor do país, e iríamos para a África do Sul fazer uma edição especial. Estava me preparando para ir para a festa de despedida do continente, e botei meus melhores saltos e vestido.
 Fui para a festa, me acabei de dançar, conheci gente nova.
 TUDO ilusão.
 Estava indo para a varanda tomar um ar fresco, e me doparam. Acordei nesse inferno, com esses caras. Não fazia sentido, e já era o segundo dia andando.
 Seria o Deserto do Saara?
 Não tinha como saber, deserto é tudo igual. Mas se fosse, em algum lugar estaria o Rio Nilo.
 Resolvi falar com eles.
 - Por favor, falem o que aconteceu!
 - Cale a boca e agradeça por não saber. - Disse o cara de 40 anos.
 - Ela não é criança. Se ela quiser saber, que digamos então.
 Um pedaço do meu vestido na lateral estava rasgado, e enquanto carregava meu sapato senti um cheiro forte de desespero. Infectava tudo em minha volta.
 - Meu nome é Josh. - Disse o mais novo com forte sotaque norte americano - E o dele é James. Estávamos na mesma festa que você. Te doparam e nos deixaram bêbados. Nos levaram  para algum lugar distante. Eram 5 viados, e fizeram sexo com a gente enquanto nos enchiam de porrada; E todos, repito, todos eles te comeram. Nos jogaram aqui quase mortos.
 Me recusei a chorar, para não perder água.
 - Mas agora é a minha vez de fazer perguntas - Disse Josh - Quantos anos você tem, garota?
 -20. - Gemi.
 - E virgem até hoje por quê?
 - Religião.
 - Queria poder ter a mesma força de vontade.
 - Grande diferença, vamos morrer mesmo... - Resmungou James.

Pelo terceiro dia, não conseguíamos mais andar. Deitamos. Sabia que dali nenhum de nós  iríamos levantar tão cedo. Josh me abraçou chorando que nem um bebê com fome.
 - Eu quero a minha mãe!
 Teria dado risada se tivesse ouvido isso em outro dia. Mas aquilo era nada menos do que nós queríamos.
 Beijei sua testa com meus lábios rachados, enquanto implorava a Deus que não ficasse grávida nem doente, caso sobrevivesse.
 Naquela hora, as lágrimas foram inevitáveis.

Lá pelo quarto dia, ouvi um  helicóptero se aproximando. Queria me mexer, gritar, acenar, mas a única coisa que consegui foi olhar em volta. Josh se enroscava em mim e James sem dúvida estava morto.
 Por fim o helicóptero pousou na areia e de lá sairam anjos; Derramaram água na minha boca e na de Josh, e ri de tão feliz que fiquei em sentir a água escoar pelo meu estômago. Me recusei a fechar os olhos, pois caso o fizesse eu morreria. Cheguei viva no hospital junto com Josh, e ficamos internados lado a lado durante 3 dias. Nos seus poucos momentos sóbrios ele sorria para mim e falava que íamos ficar bem.
 Quando saímos de coma, fomos para casa e durante o vôo ele disse:
 - Quer se casar comigo?
 E disse sim, fazendo a melhor escolha da minha vida.

Comentários

Rodrigo Vellame disse…
Uau!
Concerteza essa história é emocionante!
Continue assim...
Bjos;*

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