Capitã

(Laís Moura)

 Acordei enjoada. Espreguicei-me e tomei um susto ao olhar para o teto. Era de madeira. Olhei em volta; estava deitada numa rede, que se balançava, ouvindo som do mar, e sentindo um cheiro forte de peixe.
 Fechei os olhos, esperando que ao abrí-los eu estivesse no meu quarto.
 Abri, e não estava.
 Dei um pulo da rede; Corri para a escada pequena que havia no canto das paredes. Subi e me bati com uma luz forte que vinha do sol, e tomei um susto ao ver o lugar onde eu estava.
 Estava num navio.
 Vi que ele não era moderno, era um navio de madeira, daqueles de piratas. Todos trabalhavam em conjunto, e a predominância era de mulheres.
 - Bom dia capitã, uma maçã especial para você. - Disse um dos piratas, com tapa olho e tudo, jogando a maçã para mim. Peguei com meu reflexo triplicado. - Dormiu bem?
 - Ahan. - Respondi, fingindo ser a mais natural possível.
 Capitã?
 Olhei para mim. Blusa rasgada, sem sutiã, uma espécie de pano ao redor da minha barriga, calça marrom folgada, cabelo com as pontas loiras do sol, pele enrugada. Mais bonita, impossível.
 Dei um gelo em mim mesma, por estar preocupada com beleza naquela altura do campeonato.
 Fiquei assustada, mas pretendi ser a mais normal possível. Olhei para cima, e vi uma torre fina, onde no topo estava uma mulher com um binóculo, avistando um navio adversário. No volante, estava outra mulher, com uma bandana vermelha com linhas brancas na cabeça. Sharon, avisou meu subconsciente, era seu nome.
 - Sharon - Chamei - Que data é hoje mesmo?
 - 9 de março de 1500.
 - Bom, e para onde estamos indo?
 - Seguindo os portugueses. Eles estão indo para as Índias.
 Haha, Brasil, como seria descoberto mais tarde.
 - E por que estamos seguindo eles?
 - Capitã, perdoe-me a audácia, mas a senhorita bateu a cabeça em algum lugar?
 Ri, mais de nervosismo do que da piada dela.
 Uma mulher que estava tocando gaita arrancou a espada da bainha da calça, e fez um corte no rosto de Sharon.
 - Estúpida. - Recriminou - Quando vai aprender a tratar a capitã com respeito?
 E dizendo isso, cuspiu em seu rosto.
 - Capitã. - Disse ela. - Eles nos viram.
 E daí? O que isso significa mesmo?
 Mas pela cara séria, pude notar que era grave. E que eles queriam uma decisão minha. Daí ela começou a falar da carga de armas que eles tinham e equipamentos, e não entendi zorra nenhuma. De uma coisa eu estava certa - eu não estava sonhando.
 - Estamos viajando há um mês né? - Murmurei para ela.
 - Não capitã. Há 9 meses.
 - Ah, claro. Bom, então, acho que temos condições de enfrentá-los.
 E aí 50 pessoas berraram, anunciando a guerra. Puxei a espada da minha cintura e observei o sol refletir nela.
 Eles eram em maior quantidade, percebi quando invadimos o navio deles. E estávamos totalmente lenhados, pois eu era uma garota que tinha resumido a sua vida em estudar e ir ao shopping fazer compras. Nunca fiquei mais de uma hora sem protetor solar no sol, e absorvente naquela hora era a mesma coisa que chuva de ouro.
 Mas até que lutei direitinho. Matei uns 5 caras e apaguei outros 3, mas fiquei sem força quando o nono se aproximou de mim. Eu só teria forças para mais um movimento, e além disso eu desmaiava.
 Chutei sua mão com a arma e daí lasquei-lhe um beijo.
 Juro, foi muito nojento. Seu hálito tinha uma mistura de rum com peixe, e sua barba espessa me pinicava. Mas consegui o que queria: ele relaxou e puxou minha cabeça na sua direção, desesperado de desejo. Ai foi fácil: peguei minha faca e cravei em sua barriga.
 Arquejei, me ajoelhando; Havíamos vencido. Perdemos 7 dos nossos, e fiquei triste. Ganhamos, mas pagamos o preço.
 Preço pago com sangue humano.
 Eles urraram de vitória, e agachada, vi no meu dedo uma aliança.
 Uau, eu era casada.
 Um pirata - o mais bonito de todos - veio na minha direção, rindo:
 - Ah, Jane, só podia ser você. Você é genial. - E me beijou.
 Sorri, lavando o corte que tinha ganhado no braço.
 O sol não tinha nem saído direito do lugar quando fui me deitar, refletindo sobre a loucura desse dia. Afinal, não é todo mundo que mata 6 pessoas num dia só e é elogiada.
 Não que eu tenha gostado de tirar vidas, mas foi interessante me sentir num filme.

 Acordei no meu quarto. Sorri, triste por ter acabado tudo e feliz por ter minha velha cama de volta. Levantei e fui escovar os dentes, e ao olhar-me no espelho, a cicatriz estava lá.
 E está até hoje.

Comentários

Anônimo disse…
"Chutei sua mão com a arma e daí lasquei-lhe um beijo. Juro, foi muito nojento."

AUhauhauah, se fosse um filme, laís adoraria passar por essa cena !!!

By : Roddy

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